A credibilidade do esporte
Erich Beting
O tema já foi debatido aqui algumas vezes e, agora, volta à tona com a pretensa "marmelada" que se avizinha na decisão do Campeonato Brasileiro. Assim como em qualquer área de atuação, a ética é o que permeia aquilo de mais precioso para um produto, que é a sua credibilidade. Muitos críticos aos pontos corridos argumentam que o formato de disputa do campeonato abre espaço para as malas de dinheiro deturparem o resultado decisivo. Agora, mais ainda, a rivalidade pode ser responsável por definir um campeão.
Só que o problema não está no formato de disputa, e sim na falta de ética. Não há como montar um código de ética para o esporte, porque é muito subjetivo dizer que um atleta se machucou de propósito, ou que um time entregou um jogo. Mas é possível modificar as atitudes para chegar aquilo que é mais precioso: a credibilidade.
Quando estourou o caso Nelsinho Piquet, a Fórmula 1 foi eficiente em "limpar" a sua imagem. Baniu-se (ir) responsáveis, tirou-se a impressão de jogo sujo. O estrago já estava feito, mas a resposta rápida serviu para preservar a integridade da disputa. Ou, pelo menos, a sensação de integridade.
Só que, neste Brasileirão marcado pelo equilíbrio, ver a competição se encerrar com suspeita de "amolecimento" de um adversário em detrimento do rival é ficar boquiaberto com a incompetência de visão de longo prazo do gestor esportivo. Mais importante do que A ou B ser campeão, fundamental é você ter um campeonato forte, com todas as equipes em condições iguais de competir em alto nível. Do contrário, a credibilidade em torno da competição vai embora.
Ter um campeonato manchado pelos STJDs, pela entrega de resultado ou erro de arbitragem é ter a falta de confiança de todos no produto. O torcedor, como muitos comentaram aqui no blog, simplesmente perde a crença na legitimidade do campeão. O patrocinador pensa duas vezes antes de colocar seu dinheiro no futebol. E a mídia fica propensa a falar de escândalos e não do que verdadeiramente importa, que é o resultado da competição.
Que o esporte é um grande negócio, não há dúvidas. Mas que, sem credibilidade, esse negócio perde força, também não tem o que se questionar.
O título de um Flamengo, um Inter, um Palmeiras ou um São Paulo não pode ser creditado ao resultado de uma ou outra partida. Se isso vier a acontecer, quem perde não é o Grêmio ou o Corinthians com um rival fazendo a festa, mas o campeonato como um todo.
É preciso um choque de imagem no Campeonato Brasileiro para mostrar que existe seriedade no esporte. A mesma seriedade que foi exigida - e alcançada - quando acabaram-se as viradas de mesa, quando os times de grande torcida caíram e subiram na bola. Não à toa, o produto futebol passou a ser bem mais interessante depois dessa virada de página.
É um processo pelo qual também precisam passar os políticos neste país. Preservação, ou resgate, da credibilidade é algo que deveria permear o gabinete de qualquer político ou a cadeira de qualquer gestor esportivo. Só assim o produto atrairá o interesse das pessoas.
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Benê Lima