Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, dezembro 12, 2009

Rafael Benítez, treinador do Liverpool FC
“Nós não temos um sistema de jogo”
Equipe Universidade do Futebol

Após um período bem sucedido no Valência, o treinador espanhol Rafael Benítez venceu a Champions League logo no seu primeiro ano à frente do Liverpool. Em uma final espetacular, sua equipe superou um déficit de 3 a 0 no marcador e venceu na disputa de pênaltis o Milan, da Itália. E a primeira impressão, definitivamente positiva, ficou.

Sereno e modesto em relação ao seu sucesso como técnico, Benítez explica: “isso tudo depende de trabalho duro”. Pode ser tão simples assim?

Renovando a parceria entre a Universidade do Futebol e a Soccer Coaching International, levamos à comunidade do futebol brasileira a apresentação desse material exclusivo. Um especial produzido a partir de uma visita ao técnico espanhol, que falou sobre sua metodologia de trabalho, as diferenças culturais entre os país pelos quais passou e o modo como ele compreende o treinamento específico da modalidade mais popular do mundo.

Rafa desembarcou em Anfield como sucessor de Gerard Houllier, no verão de 2004. Ao longo de cinco temporadas, já é possível analisar a trajetória que o coloca no patamar de um dos maiores managers da história dos Reds – claro que a sustentação provém do fato de faturar dois títulos importantes logo em suas duas primeiras temporadas - um feito não igualado por nenhum de seus antecessores.

Nascido em Madri, em abril de 1960, deu seus primeiros passos como treinador nas ligas inferiores espanholas, com equipes de base do Real Madrid. Mas nunca chegou a desfrutar de um período de trabalho junto ao grupo principal.

Posteriormente ao controle merengue, iniciado em 1986, deu o pontapé inicial à gestão do futebol profissional no Valladolid em 1995. No ano seguinte, rumou para o Osasuna, para na sequência chegar ao Extremadura, a quem conduziu à primeira divisão da competição nacional.

Em 2000, ainda dirigiu o Tenerife, realizando processo parecido com sua agremiação anterior. Até que surgiu o início de sua notável história de sucesso com o Valencia.

Em apenas três anos no Mestalla, Benítez conseguiu romper a hegemonia de Real Madrid e Barcelona, abocanhando dois títulos da Liga e uma Copa da Uefa (hoje Liga Europa), segunda competição mais importante do continente.

Como é que seguiu encantando e chamando a atenção da esfera futebolística? Simples: tornou-se o primeiro espanhol a dirigir o Liverpool na Premier League e, obviamente, no prazo de um ano, conquistou a Liga dos Campeões.

A vitória dramática sobre o Milan em Istambul foi seguida, três meses depois, da Super Taça Europeia – confronto único entre os dois principais vencedores do Velho Continente.

Na sua segunda temporada, Benítez comandou o grupo vermelho na conquista da tradicional FA Cup, batendo o West Ham, em Cardiff. E logo depois reafirmou seu compromisso com a assinatura de um novo contrato por mais quatro anos, começando pelo mês de junho de 2006.

O espanhol novamente chegou à final da Champions League em 2007, novamente contra o Milan, mas não conseguiu superar a agremiação dirigida por Carlo Ancelotti do banco de reserva, e que tinha a figura de Kaká em seu meio-campo.

Neste ano, mesmo diante de algumas turbulências em termos de resultado no primeiro semestre, o pacto entre comissão técnica e diretoria foi ratificado com a extensão do vínculo contratual até 2014.

“Você não faz isso sozinho. É preciso ter uma boa comissão técnica, as pessoas certas nos lugares certos para trabalharem naquilo que elas são boas, e elas precisam querer trabalhar duro. No Liverpool, nós temos um treinador de goleiros, um preparador físico, dois treinadores técnicos, e pessoas observando os oponentes e as estatísticas, os quais estão continuadamente procurando novos jogadores para reforçarem o time, o que nos leva ao próximo resultado”, explicou Rafa, citando seu staff de confiança.

“Para ser bem sucedido, um técnico precisa de uma boa seleção de jogadores. E se você tiver tudo isso, pode alcançar o sucesso”, completou.



"É preciso ter uma boa comissão técnica, as pessoas certas nos lugares certos para trabalharem naquilo que elas são boas, e elas precisam querer trabalhar duro"

Na composição de 20 outros profissionais voltados às mais diversas esferas de treinamento, incluindo-se olhares específicos às equipes reservas, destaque para o assistente técnico Sammy Lee, para o treinador auxiliar, Maurício Pellegrino, e para o treinador de goleiros principal, Xavi Valero.

“Essa é a base do sucesso de todo técnico”, afirmou Benítez, citando sua interação com diversos outros treinadores que atuam na primeira divisão inglesa e observam o jogo dessa mesma maneira.

Na avaliação de Rafa, entretanto, muitas situações podem e devem ser treinadas – e são nesses pontos em que as diferenças se farão presentes e o contato peculiar com cada assistente se mostrará efetivo.

“Um técnico irá, por exemplo, prestar mais atenção aos aspectos técnicos, quando outro treinador gastaria mais tempo com a parte tática”, argumentou Benítez, explicitando a maneira que considera ideal para se atuar.

“As pessoas parecem comentar muito sobre bolas longas e passes curtos. Se você perceber, a maioria das discussões leva a crer que você tem que escolher entre uma dessas duas opções. Mas, para mim, é uma mistura das duas coisas”, pontuou.

“Você tem que controlar ambas as maneiras de jogar. Desafortunadamente, não muitos treinadores costumam fazer dessa maneira. As bolas longas são a maneira mais rápida de você chegar próximo ao gol do seu oponente. Então, é essencial que você domine isso. Mas você não utiliza só os passes longos para jogar da defesa para o ataque”, complementou Benítez.

Geralmente, o espanhol utiliza-se de uma plataforma 4-4-2, com duas “linhas de 4” marcando por zona, com alternância para o 4-4-1-1 em momentos específicos. Na saída de bola, o comportamento é padronizado, com os meio-campistas recuperadores, Mascherano e Gerrard, responsáveis por rodar a bola no campo defensivo, buscando espaços para que ela saia com qualidade.



Benítez orienta Dirk Kuyt: jogador holandês realiza dupla função com muita eficiência, seja preenchendo o meio-campo, ou como companheiro de ataque de Fernando Torres

Ambos atuam sempre na diagonal um do outro, conferindo um certo equilíbrio defensivo e uma estabilidade ao outro, detentor da posse. Quando o argentino define por avançar no terreno, ele opta por passes curtos; já Gerrard tem uma preferência por lançamentos.

Um problema enfrentado pelo Liverpool ocorre quando a dupla está bem marcada e a bola sai pelos zagueiros – anteriormente, pela esquerda, com Hypia. Hoje, com Agger.

Benayoun ou Aquilani, pela ala direita, realizam diagonais para dentro no campo de ataque, permitindo que o lateral mais defensivo Arbeloa também suba em apoio. Kuyt alterna-se quase sempre entre segundo atacante (com bola) e meia ofensivo (sem bola), quando sua equipe marcava em 4-4-1-1.

“Você também tem que se acostumar a virar o jogo da esquerda para a direita e vice-versa. Mas esse estilo de jogo não é sempre o mais eficiente. Às vezes é mais eficiente usar passes curtos para construir um ataque”, justificou Benítez, que valoriza muito a força nas transições defensivas, colocando rapidamente muitos jogadores atrás da linha da bola.

“É importante que o seu time possa trabalhar com diferentes ideias e saiba o que fazer. Eles precisam saber como se aproximarem em todos os jogos, porque isso pode ser diferente de um jogo para jogo. Por exemplo, se você precisa jogar no contra-ataque em um certo momento, você precisa saber como fazer isso. A mesma coisa se nós temos que aumentar a pressão: todo o time sabe o que fazer”, complementou.

Benítez recorda que, quando trabalhava como treinador na Espanha, especialmente no Valencia, aplicava o 4-3-1-2 e o 4-4-2 com um líbero. No Liverpool, joga com o 4-4-2, efetivamente, com uma linha de quatro na zaga.



Atento ao trabalho técnico, o treinador espanhol tem em seu compatriota Reina, goleiro titular, e no volante argentino Mascherano, duas referências ao grupo

O importante para os jogadores, na avaliação dele, é a compreensão do que fazer contra diferentes formações rivais e diante de uma cultura particular.

“Todo oponente tem uma aproximação diferente. Portanto, os nossos jogadores têm de estar aptos a jogar em sistemas diferentes também”, ratificou o manager, elencando, em termos práticos, a execução.

“Nós os ensinamos como dominar o sistema. Mas eu ensino muito sobre os sistemas perguntando, questionando os jogadores. ‘O que nós podemos fazer nessa situação?’ De olho no lance, como em uma sala de aula. ‘Como nós solucionamos isso?’ Como nós podemos fazê-los pensar?’”, disse Benítez.

“Especialmente depois de dois ou três anos treinando com jovens, você aprende que você deve desenvolvê-los”, finalizou, expondo a confiança em seus comandados e o entendimento de que aquele profissional que está em campo tem um repertório capaz de solucionar os problemas reais.


Entrevista: Rafael Benítez – segunda parte
Comandante dos Reds fala sobre o processo de aquisição de atletas, diferenças culturais entre Inglaterra e Espanha e o sistema AMISCO
Uma série de lesões, por vários fatores, envolvendo alguns dos principais jogadores do elenco, algo que dificultou a transição da última para a atual temporada. Os reflexos em campo estão expostos nas tabelas de classificação: posição apenas intermediária na Premier League e eliminação logo na primeira fase da Liga dos Campeões da Europa.

Problemas, muita pressão e até risco de demissão passaram a compor o esfera cotidiana de Rafael Benítez. Mas é olhando para o seu interior – e o interior do próprio Liverpool – que o treinador busca soluções para reviver os melhores momentos em Anfield Road.

“Estou convencido de que nós voltaremos no próximo ano [à Champions League]. Temos um bom time, um bom elenco e podemos vencer jogos em sequência agora”, comentou o treinador, às vésperas do duelo contra a Fiorentina, realizado na última quarta-feira (revés por 2 a 1 de virada em casa).

“Sabemos o que é jogar uma Liga dos Campeões. Os jogadores certamente compreendem essa importância e acredito que terminaremos a Premier League entre os melhores. Para isso, precisamos nos concentrar”, completou Rafa, tentando dar um passo de três anos para trás.

Para chegar à condição de faturar novamente uma edição da principal competição do Velho Continente, tal qual ocorreu em 2005, o manager vislumbra, mais do que a renovação contratual de suas principais estrelas, um fortalecimento do grupo com jovens potenciais. A forma como esse processo é conduzido? O próprio Benítez explica, nesta segunda parte da entrevista concedida àSoccer Coaching International, parceira da Universidade do Futebol.



Ao fundo, Benítez e Lee observam treino; em primeiro plano, Torres: atacante espanhol foi o artilheiro dos Reds na última temporada e está de volta à equipe após lesão

“Na maioria das vezes nós procuramos jogadores os quais se encaixem no sistema que está sendo utilizado no momento. Procuramos pelo o que pode ser a melhor solução para o atual sistema com o qual estamos jogando. Mas se nós pudermos comprar jogadores com qualidades excepcionais, os quais jogariam melhor em sistemas diferentes, não haverá problema em trocar do 4-4-2 para o 4-3-1-2”, explicou o treinador.

“Porém, a maioria dos sistemas se parecem, porque se os seus laterais no 4-4-2 jogam um pouco mais adiantados, você chamará isso de 4-2-4. São apenas números”, completou.

A seleção e a observação são efetuadas por profissionais devidamente contratados e ligados à agremiação inglesa. Há forte integração entre a comissão técnica, a direção de futebol e os próprios “olheiros”, que percorrem localidades atrás de atletas dentro da carência atual do elenco.

O relacionamento entre Benítez e os outros componentes do staff vermelho, enraizado no dia-a-dia, ganha contornos específicos à véspera de um jogo oficial. Sammy Lee, Maurício Pellegrino, Xavi Valero e todos os outros 17 profissionais da estrutura técnica são decisivos na construção da proposta de jogo que será levada a campo mediante as características do rival.



Benítez responde a perguntas após revés na Liga dos Campeões: treinador espanhol está pressionado e busca reencontrar melhor jogo do Liverpool

“Eu tenho um treinador de goleiros, um auxiliar técnico, um preparador físico e eu tenho mais duas pessoas no departamento técnico e algumas pessoas que estão observando os oponentes com os quais nós jogaremos em breve. Antes de mais nada, eu quero saber o sistema com o qual eles estão jogando, como eles marcam e sobre a movimentação dos jogadores. Daí, passo a querer informações sobre os jogadores importantes que estão atuando no time”, elencou Benítez.

“Nós preparamos alguns clipes para passarmos para os jogadores. Além disso, nós temos o sistema AMISCO: captamos todos os detalhes dos jogadores, como o número de toques na bola e a movimentação individual, que nos ajudam nas tomadas de decisão”, acrescentou, chegando a um ponto tecnológico decisivo.

O AMISCO é um programa informático de dados que pode ser visualizado no estádio Mestalla, do Valencia, desde o período em que Rafa Benítez passou pela agremiação espanhola. Lá, oito câmeras de televisão tomam todos os indicativos de medição dos jogadores, desde a distância entre as linhas da equipo, até o que corre com cada atleta durante os 90 minutos.

Para esse procedimento, a direção do Valencia desembolsa cerca de 12 mil euros por partida à empresa Sport Process, que se encarrega da gravação e da elaboração do DVD com o que foi coletado.

“O futebol inglês é mais físico e rápido. O futebol espanhol é mais técnico. Às vezes, você observa uma mudança, especialmente nos times de ponta, como o Arsenal e o Chelsea. Nestas agremiações há diferença, mas, na média da Premier League, ele é mais físico”, comparou o comandante que se formou na função em categorias de base do Real Madrid, passou por times de menor porte no âmbito profissional, até ascender com o Valencia.

Questionado sobre o nível de disputa das duas grandes competições nacionais que enfrentou, Benítez aponta para o “sentimentalismo” aflorado em equipes menos tradicionais na Terra da Rainha quando estas têm pela frente um dos gigantes – Arsenal, Chelsea, Manchester United e o próprio Liverpool.

“Creio que aqui na Inglaterra, especialmente fora de casa, você pode ter dificuldades, também contra times mais fracos, porque eles têm a paixão nesses jogos. Nas partidas de copa [FA Cup, Community Shield, etc] esse efeito é um forte nivelador”, expressou o espanhol.

A justificativa do treinador é novamente exposta nos (maus) resultados colhidos nesta Premier League. Após 15 rodadas, a equipe somou apenas 24 pontos. Como anfitrião, por exemplo, o Liverpool perdeu pontos para Manchester City e para o modesto Birmingham. Fora de casa, foi derrotado por Sunderland e Fulham, dois concorrentes que estão abaixo dele na tabela de classificação.



Capitão do Liverpool, Gerrard é a maior representatividade da equipe inglesa e possui o perfil que agrada ao técnico Rafa Benítez

“Você precisa fazer gols e ter chances de fazê-los. A maneira que você consegue isso pode ser feita de diferentes formas. Você pode atacar o tempo todo e você pode contra-atacar. Isso não importa. As duas maneiras podem ser atrativas de se ver. As pessoas às vezes dizem que você pode comprar gols, mas isso não é tão simples quanto parece - é muito difícil para um jogador mudar o jogo por ele mesmo”, analisou Benítez.

Para promover mais possibilidade de vazar o sistema defensivo do adversário, o treinador busca novas maneiras de atuar. Mais do que isso, confia na capacidade de jogadores raros, como Fernando Torres, que volta de lesão, assim como Gerrard, outro entregue ao departamento médico durante longa data.

“Nós temos muitos jogadores fazendo cinco ou seis gols e isso nem sempre é uma vantagem. Porque os oponentes são muito organizados atualmente, e, penso, é muito mais difícil de defender se mais pessoas podem marcar gols do que se só o goleador”, finalizou o treinador espanhol.


Entrevista: Rafael Benitez – terceira parte
Espanhol que comanda o Liverpool fala sobre planejamento de treino, sistema tático, plataformas de jogo e dá dica aos treinadores mais jovens
Nesta terceira parte da entrevista concedida pelo treinador espanhol Rafael Benítez, encaminhada ao público brasileiro a partir de uma parceria entre a revista Soccer Coaching International e a Universidade do Futebol, entraremos definitivamente nos aspectos de treinamento preferidos e desenvolvidos pelo comandante da tradicional agremiação inglesa.

Além de falar sobre o planejamento de seus treinos e como conduz o período prévio de uma temporada européia, o manager dos Reds indica a plataforma tática delineada em Anfield Road a partir de uma realidade local. Bem diferente da época de Valencia, no início dos anos 2000.

“O estilo típico de se jogar na Inglaterra é o 4-4-2. Às vezes, você tem que saber a tradição e tem que jogar nesse sentido. Depois de dois ou três anos, você pode indicar jogadores que entendem outro sistema, mas no começo, nós tentamos usar o sistema com o qual eles estão familiarizados”, explicou Benítez.

“Nós temos um plano no começo da temporada. Ele é um pouco parecido todo ano, mas sempre pode mudar baseado no time que você tem e nas coisas que você vê nos jogos. Nós também temos um plano na parte física. Mas, o mais importante é o plano tático, porque depois de cada jogo, você tem que mudar alguma coisa”, enumerou.



Benítez valoriza muito aspectos técnicos e físicos durante a pré-temporada: realidade inglesa e calendário apertado pedem dedicação extra

A exemplificação de Rafa se dá desta forma: caso haja a proposta de um treino de marcação por pressão e se observam problemas no time para tal execução, pensa-se em uma forma de realizar mais atividades nesse quesito.

Dentro do plano estratégico, ao lado dos 20 profissionais que o cercam na comissão técnica, o treinador busca, sempre que possível, inserir o máximo de aspectos do jogo, cobrindo por todos os lados o “ano oficial do futebol”.

“Nós fazemos pequenos jogos, mas não temos nada novo para oferecer aos técnicos”, limitou-se a dizer, com modéstia, Benítez. “Nós não podemos dizer que é a minha função, mas isso não é verdade. Todos aprendemos por muitos anos e todos nós aprendemos com diferentes pessoas”.

Benítez foi questionado sobre o estilo de comando e condução do grupo de jogadores. A publicação holandesa se pautou em dois referenciais “compatriotas”: Leo Beenhakker e Louis van Gaal.

Don Leo treinou a equipe de seu país na Copa do Mundo de 1990 e na Eurocopa de 1992. Além disso, acumulou passagens por Ajax e Feyenoord, pelo Real Madrid e pelos selecionados de Trinidad e Tobago e Polônia. O lema desse gerente de pessoas em relação aos seus comandados: “deixe-os sentir confortáveis”.

Já Van Gaal adota um tratamento mais direcionado ao jogo, sem se apegar muito ao atleta, especificamente. Ex-jogador e atual treinador do Bayern de Munique, nunca obteve grande destaque na primeira função.

Na chefia da comissão técnica, faturou a Copa da Uefa e a Liga dos Campeões com o Ajax e o bicampeonato espanhol com o Barcelona. Como Benítez se auto-critica, em um paralelo com esses dois? Basicamente um misto.

“Equilíbrio é a chave. Você tem que achar o equilíbrio correto, mas eu acredito que isso também depende da personalidade do técnico. Por exemplo, como um treinador de goleiros, a relação com os jogadores é tão importante quanto ter muito mais contato individual com eles. Além disso, você tem que pensar que, como treinador, você não pode mudar muitas coisas. O jogador também tem que ter personalidade para entender como fazer certas ações para realizar o trabalho. Como treinador, você tem que entender a personalidade para entender os jogadores, também”, definiu o espanhol.



"Todos aprendemos por muitos anos e todos nós aprendemos com diferentes pessoas"

Na Premier League, competição em que os atletas são muito fortes e há um embate físico e constante entre os mesmos, a maneira com que a comissão técnica do Liverpool lida no processo de contratação é indicando nomes que possam competir dentro dessas circunstâncias.

“No primeiro ano [2004], nós terminamos em quinto lugar no Campeonato Inglês e vencemos a Champions League, mas nós éramos muito fortes na zaga. No segundo ano, indicamos Crouch e Reina - então nós nos tornamos mais fortes fisicamente ainda para poder jogar na Premier League”, relembrou Rafa. “Se você enfrenta um time pequeno que é muito agressivo, você não pode jogar a bola para trás: tem que atuar com bolas longas e ganhar as segundas bolas. Mas isso é muito diferente se você joga com o Arsenal, por exemplo”.

Para chegar próximo ao ponto ideal, a pré-temporada tem uma relevância muito grande nas mais diversas variáveis técnicas e físicas. Benítez busca com seu staff praticar todos os aspectos do jogo. E mais: tenta explicar para os jogadores quais são as bases desse jogo pretendido.

“Nós tentamos explicar quando devem permanecer onde estão, quando devem pressionar. Quando tentamos treinar um contra-ataque, por exemplo, no qual o time tem que jogar rapidamente, definimos exercícios em que os jogadores tenham que tocar a bola com mais precisão e de modo mais acelerado. Isso é simples. Mas, atualmente, existe o problema de que os jogadores têm muitas coisas para controlar”, apontou o comandante.



Apesar do momento turbulento e de pressão, Rafa mantém boa relação com a torcida e é visto como um dos grandes responsáveis pelos recentes triunfos

Ele se refere ao desgaste emocional e temporal dentro de um calendário apertado, com muitos compromissos oficiais importantes. “Às vezes, quando você joga duas partidas na semana, você não tem tempo para praticar tudo isso. Portanto, a pré-temporada é um dos períodos mais importantes da temporada para o treinador”, completou Benítez, que realiza muitos jogos de posse de bola com o objetivo de conseguir realizar o passe: uma característica marcante de seu Liverpool.

No time que geralmente se defende bem, em um 2-4-4, cuja marcação intermediária ofensiva balanceia horizontalmente acompanhando a movimentação da bola e forma triângulos defensivos para pressionar o rival do setor que tiver a posse da bola, o nível de concentração é muito elevado. Indubitavelmente, ali há o dedo do espanhol que completa nesta temporada 22 anos de carreira como treinador.

“Você precisa ter paixão e só tem que trabalhar duro. Se tiver talento e trabalhar duro, no final, você terminará no topo. Se você não é bom o bastante, mas trabalha duro, ainda pode chegar a um bom nível. Mas se você é realmente bom e não trabalha duro ou não tem paixão, é claro que ainda há chance de se fazer isso, mas dificilmente alcançará o topo”, finalizou Benítez.

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Benê Lima