Alcides Scaglia
Um grupo de pesquisadores centrou seus estudos no desenvolvimento de uma nova abordagem metodológica para o ensino de jogos, denominada “Teaching Games for Undestanding”(TGfU). Traduzindo, para um melhor entendimento, seria: ensinando jogos pela compreensão, elaborada, segundo Werner, Thorpe e Bunker, no final da década de 1960 e início de 1970, na Universidade Loughborough, na Inglaterra, e atualmente divulgada e explorada por alguns pesquisadores nos EUA, principalmente na Universidade de Kent, em Ohio.
Esta abordagem, baseada nas teorias interacionistas, não presume que as consciências estratégica e tática nos jogos devam esperar pelo desenvolvimento de sofisticadas habilidades técnicas. Ou seja, como coloca Judith Oslin, em oposição a metodologias tradicionais para o ensino dos jogos, as abordagens táticas fazem com que os estudantes entendam os jogos, compreendendo suas estruturas, ficando sensíveis e participantes, desenvolvendo deste modo o gosto pelo jogo.
A aprendizagem dos jogos deve levar em consideração as habilidades que os alunos já possuem e que lhes permitem realizar os jogos. Sendo assim, segundo esta proposta, o professor não deve se ater inicialmente ao ensinamento das habilidades específicas exigidas para a realização da atividade, para só depois de adquiridas, os alunos aprenderem a jogar. Isto caracterizaria um fator desmotivador no processo de aprendizagem dos jogos, pois Oslin afirma que é muito possível que os alunos se desmotivem no meio da aprendizagem e também, aqueles que não atingirem certos níveis de habilidades nunca joguem.
Desse modo, para o ensinamento dos jogos, segundo TGfU, os professores devem propor atividades que sejam compatíveis com o nível de habilidade dos alunos, e assim, por meio de desafios táticos eles são levados a obter sucesso durante todo o processo de aprendizagem do jogo, sentindo-se competentes a cada passo.
Para isto, o professor pode e deve modificar os jogos, alterando suas regras e equipamentos, criando um ambiente desafiador que leve os alunos a melhorarem suas habilidades e a rapidez nas tomadas de decisões, no momento de solucionar um problema exigido por uma situação de jogo qualquer.
As alterações são possíveis, pois, segundo os autores deste modelo metodológico, as habilidades e a compreensão tática podem ser transferidas de um jogo para outro. Então, ao se aprender a habilidade de passar a bola no basquetebol, esta será utilizada durante outro jogo qualquer que utilize passes efetuados pelas mãos. A mesma situação pode ser aplicada para a compreensão da tática, em que, quando o aluno assimila a lógica do passe, com seus porquês e momentos, consegue transferi-la para outros jogos, que não exclusivamente os que utilizam mãos, como, por exemplo, o futebol. Um exemplo dado por Bunker, Werner e Thorpe, acontece pelo simples fato de o professor aumentar ou diminuir o tamanho do alvo ou gol. Isto fará com que os alunos percebam se a marcação por zona ou individual será mais vantajosa.
Já as técnicas são desenvolvidas a medida que os alunos reconhecem a sua necessidade dentro do jogo, ou seja, os professores devem levar os alunos a sentir a necessidade de utilizar um passe quicado ou de peito num jogo de basquete. Sentindo esta necessidade, em decorrência de uma situação de jogo, o professor intervém, dando suas instruções. Caracteriza-se, então, a aprendizagem das técnicas em função de uma exigência tática de jogo.
Para uma melhor aplicação desta metodologia, bem como sua organização, foi elaborada uma classificação dos jogos, levando em consideração as similaridades entre eles. Os jogos foram divididos em: jogos de alvo, jogos de rede ou parede e jogos de invasão.
Nas palavras de seus defensores: “A idéia nos jogos para a compreensão é que deve-se ter uma ordem para se ensinar jogos para as crianças. Em geral os jogos de alvos são menos complexos e devem ser iniciados primeiro. Os jogos de passes devem vir depois e em terceiro viriam os jogos de rede ou parede. No final seriam colocados os jogos na sua forma oficial”.
A partir desta inovadora classificação, torna-se possível ensinar os componentes essenciais de todos os jogos, ao invés de especificações superficiais de cada um, vem nos alertar Butler. Pois, nesta abordagem, os alunos descobrem as diferenças e similaridades entre os vários jogos, o que facilita a transferência do conhecimento adquirido de um para o outro.
Assim, não se ensina um esporte de cada vez, mas sim vários que são agrupados segundo as suas semelhanças. Por exemplo, num mesmo módulo, em que se tem por objetivo ensinar os jogos de invasão ou passes, podem ser incluídos o basquete, o futebol, o handebol, etc...
Mas, neste sentido, não se quer dizer que isto aconteça automaticamente. O professor tem por função desequilibrar o aprendiz. Instigando-o a ir além, leva-o a esta descoberta. E quando o aluno toma consciência disto, ocorre com muita mais facilidade o aprendizado e a transferência de habilidades efetiva-se.
Especificamente, em relação ao futebol, Griffin, Mitchel e Oslin, no livro “Teaching Sport Concepts and Skill: A tactical games approach”, descrevem uma seqüência pedagógica, dividida em cinco níveis e várias lições, balizadas pela abordagem tática. Antes de entrar nas propostas de atividades, os autores levantam alguns pontos relevante que merecem a atenção do professor, por exemplo: o tamanho do campo e dos alvos apropriados, o peso e a quantidade de bolas adequadas, a utilização de materiais alternativos de auxílio pedagógico e, principalmente, a adequação progressiva da complexidade das tarefas.
Os problemas táticos propostos pelos autores no primeiro nível de exigência, que devem ser solucionados pelos alunos, concentram-se em conseguir manter a posse de bola e atacar o gol, criando-se espaços para isto. O segundo nível volta a atenção para o bloqueio dessas ações ofensivas, defendendo o espaço, o gol e recuperando a posse de bola, levando em consideração a participação de cada jogador da equipe, tanto com bola quanto sem ela, além da reposição da bola nos laterais, faltas e escanteios. Portanto, estes são os primeiros problemas táticos criados, que gerarão nos alunos a aprendizagem de habilidades, tanto com a bola quanto sem.
Vencidas estas etapas, o próximo desafio tático (terceiro nível) é colocado sobre o anterior, aumentando a complexidade das atividades para o aprendizado da criação de espaços para atacar.
No quarto nível, dois são os enfoques. Primeiramente volta-se a preocupação quanto à manutenção da bola, mas agora em campos maiores, o que favorecerá o aparecimento de passes longos, lançamentos e, em conseqüência, um melhor controle de bola. Na seqüência, trabalha-se a diminuição do espaço para se defender, criando-se meios táticos para isto.
O último nível é taticamente complexo, aproximando-se das formas mais maduras de jogo. O aprendizado se dá em campo grande, semelhante às medidas oficiais, requerendo para a solução tática dos problemas, movimentos mais avançados e trabalho em equipe. No ataque são criados problemas mais avançados e, na defesa, é introduzida a aprendizagem da tática de cobrir, ou seja, os jogadores aprendem a necessidade da criação de um sistema de cobertura defensiva. Este nível culmina com a ajuda na pesquisa de soluções mais elaboradas, tanto para o ataque quanto para a defesa, no tocante à reposição da bola, por exemplo, a criação de jogadas ofensivas num escanteio.
Um ponto que merece destaque nesta abordagem é o fato de que em todas as atividades existem perguntas que os alunos devem responder. A todo momento e, principalmente, frente aos problemas, o professor faz perguntas, instigando os alunos a descobrir uma solução. O professor ajuda com perguntas e não dando respostas prontas que sugerem apenas um caminho para a solução de um problema e a dependência constante em relação ao professor.
Portanto, a proposta apresentada pelos defensores do TGfU é mais uma dentre outras abordagens que quero apresentar, que compõem as novas tendências em pedagogia do esporte.
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Benê Lima