Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, dezembro 12, 2009

Roberto Gomide, diretor da World Sports – Gramados Esportivos
O Brasil precisa prestar atenção especial aos gramados. Afinal, eles são o palco dos campeonatos
Marcelo Iglesias

Após o anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, gestores e empresários iniciaram os planejamentos para deixarem as cidades-sede do evento aptas para receberem seleções e turistas do mundo inteiro. Muitos foram os projetos apresentados para a construção e reformas de arenas, além do que se pretende para melhorar a infraestrutura das 12 cidades-sede do evento e dos municípios vizinhos a elas.

Porém, até o momento, pouco se discutiu sobre a condição dos gramados brasileiros e os investimentos que eles receberão, visando o principal torneio entre seleções. Obviamente, é interessante garantir melhorias no que diz respeito ao transporte público, investir em projetos sociais, no combate à violência, entre outras áreas que carecem de atenção, mas é essencial que se tenha em mente que o campo é que será o palco do evento. Portanto, ele deverá estar em condições minimamente apresentáveis para garantir o sucesso da Copa do Mundo no Brasil.

“A partir do momento que o presidente do clube, o profissional que gere a entidade, saiba que é essencial ter-se um gramado em boas condições, hoje, há empresas para realizarem esse tipo de serviço no Brasil. É incoerente ter no elenco um jogador que custa R$50 milhões e não se gastar R$5 mil para preparar um campo de qualidade”, comentou Roberto Gomide, diretor da World Sports – Gramados Esportivos, em entrevista exclusiva à Universidade do Futebol.

De acordo com o entrevistado, a verba aplicada para a construção de um gramado de qualidade representa cerca de 2% do total programado para qualquer um dos projetos que serão realizados nos estádios da Copa do Mundo de 2014. Além disso, um bom campo oferece melhores condições de treino aos jogadores, além de diminuir significativamente a quantidade de lesões por torção de articulações e/ou rompimento de ligamentos e tendões.

Durante a entrevista, Gomide também falou sobre o mercado de gramados esportivos no Brasil e seus players, da criação da Associação Brasileira das Empresas e Usuários de Gramados Esportivos (ABGE), da condição dos campos de futebol no Brasil, da relação entre a arquitetura dos estádios e as tecnologias utilizadas para a construção dos gramados, entre outros temas.

Universidade do Futebol – Fale um pouco a respeito da sua formação profissional, da sua trajetória dentro desse segmento e das perspectivas e caminhos para quem deseja entrar nesse mercado?
Roberto Gomide –
Possuo formação acadêmica em Administração. Há cerca de 20 anos, antes de abrir a World Sports, em 1995, já trabalhava junto a empresas norte-americanas, por meio de parcerias.

Entre esses parceiros com os quais trabalhava, havia um que era do segmento de gramados esportivos. Por conta disso, realizei uma análise da situação brasileira no que se referia a esse ramo, e reparei que o país estava mais de 50 anos atrasado em relação à tecnologia que se utilizava nos EUA e na Europa.

Por isso, resolvi montar a empresa, iniciando com um produto específico voltado para um trabalho de velocidade dentro da preparação física, visando o futebol profissional.

Além disso, trouxemos alguns conhecimentos da NFL (National Football League – a liga de futebol americano dos EUA), o que nos proporcionou conhecermos mais pessoas dentro do futebol brasileiro, e entrarmos no mercado de gramados esportivos com produtos e serviços diferenciados.

Com isso, montamos um primeiro case no Brasil, na época, patrocinados pela Federação Paulista de Futebol (FPF), com a semente de grama de inverno que, hoje, é um dos nossos produtos mais consagrados.

Explicando: atualmente, a grama normal que se utiliza, na maioria dos casos, é a chamada grama bermuda, que apresenta uma característica ruim que é a de parar de crescer durante o inverno. Dependendo da região do Brasil em que se localiza o gramado, esse tipo de grama, durante o inverno, realmente entra em dormência.

Vendo esta situação, lançamos essa semente de grama de inverno que se associa com o gramado existente e cresce extremamente rápido, além de crescer no sentido vertical, enquanto que a grama bermuda cresce mais no sentido horizontal. Portanto, quando se corta a grama, não se percebe que existem dois tipos de grama no campo, e garante-se que ela exista durante o inverno, deixando o local de jogo em alta performance durante todo o ano.

Esse foi o primeiro produto que a World Sports lançou e, a partir daí, passamos a ganhar credibilidade. Então, investimos nos nossos profissionais, já que, na época, o futebol ainda era gerido de maneira muito amadora, e eu já havia tido outras experiências em empresas do ramo corporativo, conhecimento que fiz questão de trazer para o meu novo negócio, e tivemos sucesso. Prova disso, é que, em cerca de 15 anos, crescemos a ponto de trabalharmos com todos os clubes profissionais tanto de futebol quanto de golf e de pólo.


A grama de inverno garante que os estádios possuam os gramados em perfeitas condições de jogo durante o ano inteiro

Universidade do Futebol – Quantos players de médio e grande porte atuam no mercado nacional atualmente?
Roberto Gomide –
Em primeiro lugar, dentro do mercado de pisos esportivos, nós acabamos nos destacando, porque possuímos uma filosofia de trabalho bem definida, somos certificados com o ISO 9000, e temos um sistema de gestão da qualidade interna da empresa.

Além disso, o nosso objetivo principal é trazer produtos de qualidade que satisfaçam os nossos clientes. Por isso, faz 15 anos que vamos em todas as feiras do setor, possuímos parcerias com as principais empresas norte-americanas e europeias, no que se refere a equipamentos, produtos e serviços. Isso faz com que tenhamos um diferencial em relação a concorrência.

Em relação aos concorrentes, existem alguns players que são parceiros nossos, pois fornecemos produtos e serviços para alguns deles e, logicamente, que para outros não.

O que observamos, como empresa líder do segmento, é que o que nós fazemos é sempre levado em consideração pelos demais players do mercado, que tentam fazer um benchmarking,ou até mesmo copiar para prestar o mesmo tipo de serviço. Contudo, hoje, a World Sports ainda tem uma posição de destaque, pois ninguém possui os equipamentos e as parcerias estratégicas com empresas norte-americanas e europeias que nós possuímos.

Em 1996, reformamos o campo da Vila Belmiro, com um sistema de drenagem eletrônica e a vácuo, o que, até hoje, nenhum clube fez igual. Agora, para a Copa do Mundo de 2014, existe uma série de opções de grama sintética aliada à grama natural, produtos que a World Sports está trazendo para o Brasil. Pelo fato de importarmos novidades para o mercado nacional, nos distanciamos dos demais players. Porém, com Copa e Olimpíada no Brasil, a tendência é que a concorrência aumente e evolua.


É importante manter um gramado bem cuidado. Afinal, ele é o grande palco dos campeonatos de futebol

Universidade do Futebol – Grandes empresas internacionais pretendem ingressar no Brasil? Como elas enxergam o potencial do nosso mercado? No caminho inverso, as empresas nacionais têm condições de competir no mercado internacional?
Roberto Gomide –
Nesse caso temos que separar em dois segmentos: o de grama natural e o de grama sintética.

No caso do segmento de grama sintética, o ramo recebeu um grande apoio da Fifa nos últimos anos. Com isso, os grandes produtores de carpetes (que faturam cerca de 200 milhões de euros por ano) enxergaram nesse ramo um ótimo mercado para investir. O que essas empresas estão fazendo, como primeiro passo é conversando com firmas como a nossa para saber das possibilidades de investimentos locais, uma vez que, quando se trabalha com grama sintética é essencial que se tenha a fabricação e, como já existe um fabricante nacional, o produto importando fica muito caro.

Da mesma maneira agem os empresários que lidam com grama natural, ou seja, a tendência, por enquanto, é eles conversarem com quem já está estabelecido no mercado brasileiro para, depois, saber se ele consegue se consorciar ou se é mais vantajoso montar uma unidade própria no país.

Se os estrangeiros optarem por terem a sua própria unidade no Brasil, já ficou bem claro que eles não terão vida fácil por aqui, pois as empresas brasileiras tanto de grama sintética quanto a nossa, que também trabalha na instalação do gramado sintético mas não o fabrica, além de lidar com a grama natural, são concorrentes muito fortes.

Além disso, há de se levar em consideração que esse mercado está em formação e já existem concorrentes importantes e poderosos.

Mesmo assim, as empresas internacionais já apresentaram interesse em trabalhar no Brasil, seja independentemente, ou como parceiras de players nacionais.

E o caminho inverso também acontece. Há pouco, estive na Alemanha, em uma feira do setor, e havia fabricantes de grama sintética brasileiros expondo por lá, além de nós que fomos tentar viabilizar acordos de instalação. A World Sports possui uma sede na Flórida, e estamos concluindo o nosso quinto campo instalado em Miami.

Ou seja, esse setor trabalha muito com esse conceito de mundo globalizado. O importante é que, cada vez mais, existem as parcerias, porque não adianta tentar brigar sozinho.

Universidade do Futebol – Houve a criação da Associação Brasileira das Empresas e Usuários de Gramados Esportivos (ABGE)? Quais os objetivos da associação no curto e médio prazo? O que isso mudaria para os envolvidos no setor? E, na prática, quais seriam os impactos no futebol nacional?
Roberto Gomide –
Essa associação está sendo formada, capitaneada pela World Sports e por algumas outras pessoas. Acredito que ela deva estar em atividade até o final desse ano ou o no começo de 2010.

A ABGE visa a divulgação de produtos e serviços, mas também pretende o envolvimento dos usuários, a fim de que se desenvolva o mercado como um todo, mas por ser um setor muito técnico, é essencial que se tenha a disseminação de informação.

Por isso, a ideia não é a de montar uma entidade que tenha como objetivo apenas que eu venda o meu produto, mas que os usuários saibam o que existe no mercado, além de formar melhor os mantenedores. Por exemplo, atualmente, um superintendente de um campo de golf possui um nível muito maior do que alguém que trata de um gramado de futebol, o que nós pretendemos igualar por cima, e criar carreira para esses profissionais, o que, consequentemente criará demanda para os produtos das empresas envolvidas no setor.

Como a associação tem como objetivo principal, a disseminação de conhecimentos, a partir daí consegue-se criar um padrão, o que hoje não existe no Brasil. Atualmente, se analisarmos alguns gramados de futebol como os do Sport e o do Náutico, por exemplo, faremos diversas críticas.

Por isso, quando a ABGE for conversar com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é importante que se tenha no papel um determinado padrão para os gramados, o qual será exigido da entidade responsável pelo futebol no país. E essa exigência vai ser válida, pois não se estará falando em nome de uma empresa, mas sim, representando a associação e os usuários.

Além disso, a partir do momento em que os clubes souberem qual padrão deve ser obedecido, passa-se a ter menos discrepâncias entre o que é feito nos diferentes gramados do país e na qualidade dos campos.

O grande benefício trazido pela ABGE é que, tendo conhecimento, treinamento e sabendo o que há no mercado, os envolvidos poderão exigir os produtos e serviços adequados para possuírem um gramado de alto nível.

Universidade do Futebol – Na sua visão de profissional do ramo, quais são as reais condições dos principais gramados dos estádios brasileiros? Como deixá-los o mais próximo possível daquilo que se observa na Europa, por exemplo?
Roberto Gomide –
Nos últimos 15 anos, e com a participação importante da World Sports para isso, essa discrepância diminuiu bastante. Se há alguns anos atrás não se sabia o que é um gramado esportivo, hoje, isso é um tema que está na mídia, os repórteres comentam sobre isso, e sempre que os clubes têm algum problema, eles sabem pra quem ligar para solucionar a questão da maneira mais rápida e eficaz. Ou seja, atualmente, os principais clubes do país já possuem profissionais ou empresas que disponibilizam os produtos adequados para eles.

No entanto, para fazermos essa comparação, temos que levar em consideração que o tipo de grama do Brasil é diferente da que se tem na Europa.

Entre as agremiações brasileiras que estão preocupadas com esse tipo de tema e que procuram profissionais para, cada vez mais, melhorarem os seus campos de jogo e/ou de treino, podemos destacar o Grêmio, o Internacional, o São Paulo e o Corinthians.

Por exemplo, o campo da Vila Belmiro não deve nada a nenhum outro gramado do planeta. Ele possui o melhor sistema de drenagem que existe no mundo, um processo que é feio a vácuo. O nivelamento também é excelente, feito a laser.

Sem citar nomes, no Brasil, existem muitos campos que possuem qualidade nota sete, e poucos que são nota um. No entanto, é claro, que existem as exceções, em que tenta-se conversar com os dirigentes, mas eles não entendem a importância de se ter um bom gramado.

Mesmo porque, a partir do momento em que o presidente do clube, o profissional que gere a entidade, saiba que é essencial ter-se um gramado em boas condições, hoje, existem empresas especializadas no Brasil, que realizam esse trabalho com excelência. É incoerente ter no elenco um jogador que custa R$50 milhões e não se gastar R$5 mil para preparar um campo de qualidade.

Por isso, também, que estamos criando a ABGE, para difundir os conhecimentos e para demonstrar que tudo o que é feito na Europa e nos EUA, nós temos condições de fazer no Brasil.


No Brasil, apesar da evolução ocorrida nos últimos anos, alguns campos ainda apresentam gramados em péssimas condições de jogo

Universidade do Futebol – No contato com clubes e federações, qual o grau de importância dada pelos gestores para esse importante item (gramados) no negócio futebol? Há uma conscientização da importância de um bom gramado e a relação com um bom espetáculo?
Roberto Gomide –
Isso depende. Quanto mais o gestor for voltado para o lado da administração, mais ele vai se preocupar com esse tipo de aspecto.

O problema é que o futebol ainda é visto muito pela paixão. E isso se reflete não apenas na má qualidade do gramado, mas o dirigente que lida com a modalidade de maneira meramente emotiva não se preocupa se ele paga mais do que recebe, não se atenta à receita do estádio, se é necessário algum tipo de reforma que vá alavancar os lucros, entre outros aspectos.

No entanto, o que se observa é que esse tipo de visão está passando por uma modificação radical e os gestores estão se profissionalizando. Vide os novos clubes que surgiram como o Pão de Açúcar e o Barueri, por exemplo, os quais focam na estrutura oferecida para os seus atletas e demais profissionais. Outro que não é novo, mas que merece destaque é o São Paulo. A World Sports construiu nove campos para o time no seu centro de treinamento, com grama sintética e todas as tecnologias necessárias para se ter um gramado de qualidade. E os resultados disso aparecem no padrão de jogo da equipe e nos títulos conquistados nos últimos anos.

A infraestrutura do campo é uma das principais. Quanto mais o gestor for profissional, ele saberá que é preciso que se tenha uma estrutura minimamente razoável para que haja melhora de performance, além da diminuição de lesões. Depois que fizemos as reformas no centro de treinamento do Santos, reduziram-se as lesões de tornozelo em 70%, aproximadamente.

Então, quanto mais os gestores forem profissionais, mais o mercado de gramados esportivos vai crescer, porque ele é o palco do espetáculo.

Universidade do Futebol – Quais as tecnologias à disposição no mercado de gramados esportivos? Quais são as vantagens e desvantagens dessas tecnologias?
Roberto Gomide –
As tecnologias são muitas e existem diversos produtos que podem ser utilizados em cada uma delas. O principal é dividir-se o gramado esportivo em algumas premissas básicas. É necessário que se faça um pré-nivelamento bom. Além disso, é essencial que se possua uma drenagem excepcional. O sistema de irrigação é outro ponto fundamental para que se tenha um bom gramado esportivo. Ainda, uma base de qualidade é primordial, o nivelamento dessa base também, e o gramado tem que ser bom, e a manutenção, perfeita.

Para todos esses aspectos, existem inúmeras opções que vão deixar o gramado de determinado clube melhor ou pior, mais fácil de manter ou não, com uma vida útil maior ou menor, etc.

O principal é determinar, em cada fase da obra, quanto se pretende desembolsar, quais são as funções da tecnologia aplicada, e o que será gasto para a manutenção daquele investimento.

É difícil de apontar todas as tecnologias que existem. Se elas são melhores ou piores, vai depender de cada campo. O importante é conseguir chegar-se a um resultado final satisfatório que garanta jogabilidade na maior parte do campo, a grama suportar mais jogos e o gramado estar sempre em perfeitas condições para que a bola role.

Hoje, a tecnologia mais utilizada, que leva a construção de um campo convencional, é composta pelos seguintes processos: nivela-se o campo, o mais perfeitamente possível na base, faz-se um colchão de brita que vai atuar como um “piscinão” para abastecer água, coloca-se uma base de areia de cerca de 30 centímetros, que será importante para o melhor enraizamento e melhor drenagem da grama. Nivela-se isso a laser, aplica-se o gramado e, depois, tem que se ter os equipamentos para mantê-lo.

Algo que está bastante em destaque é reforçar a base de areia com fibras de grama sintética, que melhoram ainda mais o enraizamento da grama e a drenagem. Além disso, dependendo do tipo de equipamento que se utiliza na manutenção e na irrigação altera-se a qualidade do gramado. Isso tem que ser definido caso a caso.

Eu aposto no reforço da base com a grama sintética e também em uma manutenção adequada, e nos novos rolos de grama, os quais podem ser utilizados no dia seguinte de um show que pode ter danificado a grama que estava no local anteriormente. Nesses casos, tira-se a grama e colocam-se os novos rolos, e pode-se jogar no dia seguinte. É nisso que a World Sports acredita e investe suas fichas, e é o que vamos apresentar nos próximos anos, visando a Copa do Mundo de 2014.


Para cada fase de construção de um gramado, existem inúmeras tecnologias, as quais devem ser escolhidas caso a caso

Universidade do Futebol – Com o conceito de arena cada vez mais presente, como se dá a construção e manutenção do gramado, visando a realização de shows e outros eventos, por exemplo?
Roberto Gomide –
Se for feito um gramado convencional, ou seja, ele é fixo, é preciso que haja uma preocupação maior com o gramado para a realização de outros eventos que não os esportivos. Para a realização de um show, por exemplo, é preciso que se cubra esse gramado. No mercado, existem diversos tipos de cobertura. Utiliza-se a que seja mais adequada para cada tipo de gramado e de evento que ocorrer no local.

Após o show, tira-se a cobertura e analisa-se o estado em que ficou o gramado. Se ele foi parcialmente danificado, essas regiões do campo são trocadas. Se não houve nenhum dano na grama, libera-se o local para a realização de jogos.

Se for um gramado reforçado com grama sintética ele ficará menos danificado. Se houver uma boa proteção, os danos também serão menores. Se, por acaso, todo o campo ficou destruído, será necessário ter a tecnologia dos rolos de grama para que eles sejam aplicados logo após o show, para que o gramado esteja em perfeitas condições para se jogar no dia seguinte.

Portanto, cabe ao gestor da arena saber como ele vai administrar o local, e se é possível ter um show um dia antes de uma partida de futebol. Pode-se até chegar ao caso de instalar-se o campo removível, que exige uma logística especial para se colocar e retirar o gramado.

Além disso, também é função de quem gere uma arena administrar a expectativa da imprensa e da opinião pública de como o campo vai estar após a realização de um show. Por vezes, culpa-se a empresa que realiza a manutenção do gramado, mas há de se levar em consideração que é necessário um pouco de tempo para que o campo se recupere, afinal, é grama natural.

Em relação a isso, quanto mais a imprensa, os dirigentes e os torcedores entenderem como funciona a instalação e a manutenção de um gramado esportivo, mais coerentes serão as cobranças feitas à empresa que realiza a manutenção ou à pessoa que administra a arena.

Universidade do Futebol – Qual o tempo médio previsto entre a construção de um novo gramado e a sua troca? Qual o espaçamento ideal entre cada partida, de forma a preservar o gramado em boas condições?
Roberto Gomide –
Eu sou partidário da ideia de que o tempo ideal para se construir um campo para depois poder se jogar é em torno de 120 dias. É interessante que se tenha 60 dias desde o plantio. Com as novas tecnologias que existem no mercado e que estão em fase de desenvolvimento, esse período poderá ser reduzido para aproximadamente 15 ou até 10 dias.

No entanto, na minha visão, campo de jogo é para que o time dispute as partidas oficiais. Eu vejo como uma calamidade, e fato que não acontece nos principais gramados do mundo, uma equipe jogar e treinar no mesmo campo.

Os cases de sucesso que se tem provêm de uma regulagem nesse aspecto. Isto é, pode-se ter dois ou três partidas por semana (preferencialmente, dois jogos oficiais e um treino), não mais do que isso para que se mantenha uma arena em alto nível. Qualquer outra exigência acima disso, é necessário que se saiba que haverá problemas, pois o gramado tende a diminuir.

Com o gramado reforçado, afirma-se que é possível jogar-se de quatro a cinco jogos por semana. Talvez isso seja verdadeiro para os campos de lá, pois a grama que se usa na Europa é diferente daquela que utilizamos no Brasil. Logo, pode haver alguma variação no que diz respeito à durabilidade. Para sabermos se essa realidade é verdadeira, também, nos campos brasileiros, teremos que implantar o primeiro campo com essa tecnologia e depois analisarmos se houve a mesma evolução ocorrida na Europa.

Para eventos como uma Copa do Mundo, por exemplo, é essencial que o país se prepare e que tenha os recursos necessários para manter, durante a competição, um nível de qualidade minimamente satisfatório. Nesses casos é importante trabalhar-se com a grama reforçada por fibras sintéticas, apesar de que não são realizados tantos jogos a ponto de danificar severamente o gramado. Porém, se prestarmos atenção, nas partidas finais das Copas do Mundo, o campo sempre está pior do que estava no início do torneio.

Cabe ao administrador e ao responsável pela manutenção da grama fazerem a programação de jogos e de como serão aplicadas as tecnologias disponíveis para a recuperação do gramado.

Por exemplo, a Copa do Mundo do Brasil, em 2014, será jogada durante o inverno. Por isso será importante a utilização do recurso da grama de inverno, que é espetacular para que se mantenha um campo de qualidade. Tenho certeza de que esse evento não vai dever em nada aos realizados em outros locais como a Alemanha, por exemplo, no que diz respeito aos gramados.

Universidade do Futebol – O projeto realizado pela World Sports na Vila Belmiro foi inovador e solucionou os problemas do gramado local. Conte sobre esse empreendimento. Fale um pouco a respeito de outros cases da empresa no mercado nacional.
Roberto Gomide –
O caso da Vila Belmiro é um caso que nós gostamos muito de citar, porque ele é um campo que foi construído em 1996, e até hoje, é uma referência quando se fala em gramado. Se realizarmos uma pesquisa entre todos os campos utilizados no Campeonato Brasileiro deste ano, o gramado da Vila Belmiro, com certeza, estará entre os cinco melhores.

Essa referência do campo do Santos acontece porque as obras realizadas no local foram feitas adequadamente. O nivelamento é sempre concluído de maneira impecável, o que faz com que a bola role sempre bem e, principalmente, pode chover muito que o gramado estará em boas condições de uso, porque, nesse projeto, a drenagem foi o ponto principal.

Quando começamos a fazer esse projeto, foi-nos passado de que, sempre que chovia o campo encharcava. Por isso, focamos na drenagem, buscamos um parceiro internacional que havia feito, na época, o campo do Miami Dolphins e o Amsterdã Arena, que possuía essa tecnologia de drenagem a vácuo. O campo foi todo encapado, não existe água que fica abaixo da grama subindo e a que tem, tira-se por meio de uma bomba.

Foi um investimento alto, acima de um milhão de dólares, mas ele vale até os dias de hoje. Isso demonstra o tipo e a longevidade do retorne que obras como as realizadas na Vila Belmiro podem trazer.

Além da Vila Belmiro, também atuamos com tecnologias de ponta em outros campos como a Arena Barueri, o Pacaembu, o Palestra Itália, entre outros.

É importante que os gestores dos clubes se perguntem: Qual é o retorno para o time se eu tiver um gramado sempre em alto nível? Ainda mais se a equipe caracterizar-se pelo toque de bola e/ou tiver em seu elenco técnicos e jogadores de ponta.

Esse tipo de questionamento nos leva a conclusão de que o desempenho da equipe e a qualidade dos gramados são coisas que andam paralelamente, mas que podem ter muitas relações em comum, principalmente quando se pensa em resultados.


Apesar de ter sido realizado em 1996, o projeto feito na Vila Belmiro ainda é uma referência mundial, principalmente no que se refere à drenagem

Universidade do Futebol – Em alguns países, a grama sintética é usada com frequência. Como você vê a utilização da grama sintética em estádios brasileiros? Quais os prós e contras?
Roberto Gomide
– Eu vejo a utilização desse tipo de grama mais destinado para centros de treinamento, para a área em torno dos gramados, e para eventuais estádios que sejam cobertos e tenham problemas de intempérie.

No Brasil, creio que não vá surgir um estádio novo com esse tipo de grama, a não ser que se tenha algum problema que impeça a grama de crescer naquele local. Principalmente porque os jogadores profissionais não gostam de atuar em gramados sintéticos.

Portanto, atualmente, eu enxergo a grama sintética como um produto excelente, mandatório para se ter no campo de treinamento, porque se utiliza muito esse gramado, e ela permite que se jogue por muito mais tempo do que a grama natural.

Essa é a grande vantagem do campo com grama sintético. Se um clube precisa utilizar um gramado durante todo o dia, o ideal é que ele seja de grama sintética, porque, caso esse local de treinamento seja composto por grama natural, um dia de uso vai matar a grama.

No entanto, chegar ao ponto de se ter um estádio com gramado sintético, é muito difícil. É possível e recomendável que haja um consórcio entre grama natural e sintética, porque isso garante mais durabilidade ao campo, e se estará jogando em um campo, na prática, exclusivamente de grama natural.

Isso também não nos pode iludir, pois a grama artificial é sim um mercado em constante crescimento, e com uma evolução significativa, apesar dos praticantes dizerem que a bola quica diferente do que em um gramado natural, e de alguns deles, erroneamente, ainda associarem a imagem da grama sintética com queimaduras e outras feridas que antigamente eram realmente comuns nesse tipo de campo.

Universidade do Futebol – No Brasil esse tipo de problema não é tão presente, mas em outros países do mundo, as condições climáticas e/ou a arquitetura dos estádios influencia nas tecnologias utilizadas para a construção dos gramados. Comente.
Roberto Gomide –
Essas condições influenciam demais na maneira como vai montar-se o gramado e as formas de manutenção que serão utilizadas, e, geralmente, os arquitetos e construtoras esquecem disso até que o campo esteja pronto.

É responsabilidade de quem está construindo saber que o campo natural tem problemas com ventilação e com luz. Pode-se dar um tiro no pé, caso esses aspectos não sejam levados em consideração, que até te obrigue a adotar um gramado sintético, o que pode gerar outros problemas como a recusa dos atletas em atuar em uma grama artificial.

É necessário que se tenha consciência e a World Sports tem trabalhado muito com as empresas que estão projetando os estádios para a Copa do Mundo de 2014, as alertando e dando algumas soluções para possíveis problemas em alguns projetos.

Caso o investidor não ligue para esse tema, com certeza, ele terá problemas e terá que buscar tecnologias para isso, como por exemplo, a luz artificial, a ventilação artificial, o gramado sintético, etc. Tecnologia para resolver essas questões existe. Cabe ao responsável saber o que ele está fazendo e quais são as consequências das diferentes arquiteturas para um gramado natural em determinada região do planeta.

Em vários campos da Europa, utiliza-se uma tecnologia de luz artificial, a qual deve ficar no gramado por muito tempo, o que resulta em um gasto exorbitante para que a grama realize a fotossíntese. Em alguns casos, usa-se até ventiladores para garantir que a grama não apodreça. Isso mostra que um estádio mal projetado, onde não existe passagem de ar ou de luz, gera custos ainda maiores para os clubes.

Isso tudo deve ser trabalhado por meio da interação entre a empresa de arquitetura, a empresa construtora, o time que vai jogar naquele gramado e a federação local que vai determinar se aquele gramado será liberado ou não para partidas oficiais.


A arquitetura do estádio pode influenciar na ventilação e na iluminação da grama, o que, por vezes, exige o investimento em tecnologias de alto custo

Universidade do Futebol – Como você vislumbra esse nicho de mercado até a Copa do Mundo no Brasil? Quais as perspectivas e desafios?
Roberto Gomide –
As perspectivas são as melhores possíveis. O boom é o profissionalismo que está sendo criado, uma vez que para a World Sports, como uma empresa profissional, quanto mais for criado um padrão alto de exigência, melhor, pois estamos aptos a atender essa demanda.

Não tenho dúvida que o assunto gramado esportivo vai ser algo cada vez mais falado no Brasil, gerando um interesse muito grande não só dos envolvidos com a construção dos estádios para a Copa de 2014, mas também do público em geral. O mercado brasileiro já é grande e não há dúvida de que ele irá quintuplicar nos próximos quatro anos.

Isso só acontecerá daqui a alguns anos, pois não há como fazer reformas no estádio sem que se utilize o gramado como pátio de obras. Por isso, imagino que os campos vão começar a ser construídos efetivamente no final de 2012 para estarem prontos para a Copa das Confederações, em 2013.

2 comentários:

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Benê Lima