Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, dezembro 06, 2009

A relação entre o gestor e o torcedor

Erich Beting

"É por esse tipo de coisa que se algum jogador da Europa vier me perguntar sobre o Brasil, vou falar para não voltar. A diferença é muito grande". A frase é de Edmílson, volante do Palmeiras, sobre o episódio envolvendo Vagner Love e torcedores do clube na tarde de ontem.

A matéria publicada no UOL mostra uma verdade muito dura sobre a profissionalização do gestor no Brasil em comparação à Europa. E Edmílson ataca o centro dessa questão com sua frase.

Por aqui, permite-se um espaço muito maior para a torcida e seus atos hostis do que pela Europa. Isso não significa, obviamente, que o torcedor europeu não haja em bandos, não seja preconceituoso, não seja violento. Pelo contrário. Lá, tal como cá, a violência do torcedor que atua em bando é tão grande quanto. Mas lá, diferentemente daqui, o torcedor está num patamar, e o gestor, em outro, totalmente distante e isolado.

As torcidas organizadas da Europa são fortes e atuantes nos estádios. Mas o espaço destinado a elas é o mesmo do torcedor "comum". Não há preferência para compra de ingressos, não há entrada diferenciada no estádio, muito menos situações com essas torcidas atuando como uma espécie de agência de viagens do clube, ou a serviço do torcedor.

Dirigente de futebol é uma função, torcedor do clube é outra. Essa distinção permite que o gestor tome decisões mais seguras quanto à entrada do público no estádio e sofra muito menos pressão da torcida no exercício de suas atribuições.

Pensar em ver dirigente em festa de torcida é algo totalmente distante da realidade europeia ou americana, locais em que a gestão esportiva encontra-se em nível mais avançado do que aqui.

Mas, mais do que isso, o que o caso Vagner Love nos faz pensar é no papel da torcida organizada no dia-a-dia de um clube. Radicalmente, o torcedor organizado é um "pirata" das propriedades do time. Eles se apropriam de símbolos e imagens do clube para lucrarem milhões em causa do "samba" ou do ato de "torcer". Isso para não entrar em insinuações de formações de organizações criminosas dentro de torcidas, que podem ou não existir (e não apenas dentro de uma torcida).

Não dá para o futebol, atualmente, permitir que o torcedor organizado torne-se "dono" do time. Não é o time que tem a torcida, mas a torcida que tem um time. Quantas vezes essa expressão já foi cunhada para definir a importância do torcedor dentro de um clube.

É lógico que, sem torcida, a chance de um time prosperar é menor. Mas, sem o clube, a função da torcida simplesmente deixa de existir. Historicamente as torcidas organizadas se embrenharam dentro do cotidiano dos clubes de futebol do Brasil. Assim como, na Inglaterra, os hooligans tomavam conta dos clubes.

Foram necessárias as mortes de centenas de torcedores para a Inglaterra dar um basta na violência dos torcedores. Hoje, o grau de profissionalismo que existe dentro dos clubes impede que o torcedor tenha vida ativa dentro do clube e, até mesmo, fora dele.

Enquanto a impunidade for a marca das atividades dos torcedores de futebol no Brasil, será impossível pensar num futebol mais profissionalizado no país.

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Benê Lima