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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Quem paga a conta?
O que ajuda a pagar as contas dos clubes melhor: um campeonato com 3,7 milhões de espectadores pagantes, ou um campeonato com 6,8 milhões de espectadores pagantes? Não parece ser difícil responder
Luis Filipe Chateaubriand

O último escrito causou certa polêmica. Recebi críticas dos que são contra o Brasileiro em pontos corridos, e elogios daqueles favoráveis à principal competição nacional no formato de pontos corridos.

Uma crítica, contudo, chamou-me atenção: determinado leitor, que não gostou do texto, disse que campeonatos por pontos corridos são deficitários, que eu escrevo baboseiras e não estou nos clubes para saber das dificuldades, que quem paga a conta nunca será a favor de certames dessa forma. De quebra, me chamou de Assis Chateaubriand, apesar de eu não ter nenhum parentesco com o renomado, poderoso e já falecido ex-jornalista.

A assertiva fez-me lembrar de certo ex-presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama que sempre utilizava tal argumento para desabonar competições em pontos corridos – cidadão que é nacionalmente conhecido por sua vocação para o erro.

Confesso que não consegui entender a lógica da afirmação. Afinal, o Brasileirão por pontos corridos é muito mais atraente do ponto de vista financeiro que o era com a fórmula antiga. Para mostrar isso, basta comparar os dados de 2002 – último ano da competição pelo formato anterior – e os dados de 2009.

Em 2002, eram 24 clubes que jogavam uma fase classificatória em turno único, com os oito primeiros classificando-se para os “playoffs”. Daí em diante, os oito classificados eram distribuídos em grupos de dois e jogos de ida e volta até se chegar ao clube campeão – o Santos, de Diego, Robinho, Renato, Elano e companhia, naquela temporada especificamente.

A média de público pagante foi de cerca de 12.900 pessoas por jogo. Como houve 290 jogos no certame, aproximadamente 3 milhões e 741 mil pessoas afluíram aos estádios pagando ingresso.

Em 2009, 20 clubes jogaram em turno e returno e pontos corridos, com o Flamengo de Petkovic e Adriano conquistando o título.

Foram 380 jogos, com média de público pagante aproximado de 17.900 pessoas por jogo. Um total de cerca de 6 milhões e 802 mil pessoas afluíram aos estádios, pagando ingresso.

O que ajuda a pagar as contas dos clubes melhor: um campeonato com 3,7 milhões de espectadores pagantes, ou um campeonato com 6,8 milhões de espectadores pagantes? Não parece ser difícil responder.

O campeonato de 2002, com a fórmula antiga, teve 3.741 milhões de pagantes e 24 clubes - uma média de 155.875 pagantes para cada clube ao longo do campeonato. O campeonato de 2009, com a fórmula de pontos corridos, teve 6.802 milhões de pagantes e 20 clubes, uma média de 340.100 pagantes para cada clube ao longo do campeonato.

Qual dos dois ajudou os clubes a pagar as contas melhor?

Perceba-se, ainda, que a média de público no Brasileirão em pontos corridos poderia ser ainda melhor do que é se:

a) Os clubes disputantes fossem os que têm maiores torcidas. Clubes artificiais – como Barueri e Santo André – trazem a média de público para baixo. É pena que clubes com imensa torcida, como Bahia, Santa Cruz e o goiano Vila Nova fiquem fora da primeira divisão.

Com um mínimo de organização e competência na gestão, tenderão a recuperar espaço, substituindo aqueles rivais – o que trará a média para cima.

b) Grandes clássicos jogassem em estádios com grande capacidade de público. Por exemplo: um Palmeiras x Flamengo não precisa ser disputado em um Parque Antártica para 28 mil pagantes - pode ser no Morumbi, para 60 mil pagantes. Se se adotar a prática de grandes jogos serem em estádios de grande porte, a média tenderá a crescer.

c) Os jogos do Brasileiro fossem sempre aos finais de semanas, não devendo haver rodadas em meios de semanas – como tenho mostrado ao longo da proposta de calendário, que tenho feito neste espaço, ser possível.

Jogos em fins de semanas atraem o público aos estádios muito mais do que jogos em meios de semanas, o que faz a média de público progredir.

Como se vê, a solução para se melhor pagar as contas dos clubes não é acabar com o Brasileirão em pontos corridos, mas sim fazê-lo funcionar melhor.

Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (www.publit.com.br).

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Benê Lima