Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, dezembro 18, 2010

Pedagogia: Interação entre jogadores e treinadores

Shakhtar Donetsk youth academy – parte 1
Diferença na educação de bons jogadores está no acompanhamento de bons treinadores
Paul van Veen*

 Patrick van Leeuwen: “Shakhtar-3 has become younger”

Henk van Stee e Patrick van Leeuwen

Há quase três anos, Henk van Stee e Patrick van Leeuwen – trabalhando para a academia de base do Feyenoord Rotterdam (um dos três maiores clubes dos Países Baixos) naquele momento – foram nomeados para assumir a educação da juventude no Shakhtar Donetsk (clube vencedor da Copa da Uefa de 2009). No verão passado, Henk van Stee juntou-se ao Graafschap como treinador, mas Van Leeuwen ficou no Shakhtar Donestsk.

A Soccer Coaching International fez uma visita ao Shakhtar Donetsk para olhar mais atentamente como iniciar um programa de educação avançado na Europa. Neste episódio, o diretor Patrick van Leeuwen irá discutir a educação de treinadores. Devido à falta de futebol de rua na Ucrânia, a equipe sub-11 do Shaktar joga em um nível inferior à maioria dos outros principais clubes europeus.

O objetivo é que eles estejam no nível dos outros clubes quando chegarem ao sub-17. A diferença na educação de bons jogadores está no acompanhamento de bons treinadores.


"Bons treinadores, bons jogadores" 

“Meu objetivo mais importante aqui é a de organizar uma academia que não dependa de mim. Isso significa que é importante orientar bem os treinadores. Eles devem compreender por que treinamos desta forma. Este é um processo que vai levar anos e Henk van Stee e eu começamos este trabalho há algum tempo.

No início foi uma tarefa gigantesca. Nós queriamos que eles começassem a fazer coisas novas e por que não queriamos apresentar-lhes todo o conteúdo teórico de uma só vez, dividimos o material em partes. Começamos com o sistema de jogo. Desenvolvemos apresentações em PowerPoint para mostrar aos treinadores que queriamos um bom desempenho com a posse de bola e também sem ela, além de vários outros sistemas.

Após a conclusão do curso, lhes demos um manual e dissemos: 'Esta é a maneira que queremos jogar daqui em diante'. Em seguida, discutimos os jogos por meio de gravações de vídeo e percebemos melhoras toda semana”.


Defesa com posse de bola

“Ao iniciar com as ideias básicas e por assim fazê-lo, você automaticamente observa quais são os problemas mais frequentes e no que temos de concentrar com mais ênfase. Percebemos que todas as equipes estavam frequentemente repetindo os mesmos erros táticos. Quando percebíamos estes erros, os discutiamos exaustivamente em nossa reuniões. Percebemos que eles estavam tendo problemas para permitir que os jogadores tivessem iniciativa; para aceitar erros e também para não para punir os jogadores todo o tempo, assim os atletas não se arriscavam a tentar de novo.

Outro problema foi a defesa mantendo o controle das jogadas quando com posse da bola. Muitas vezes vimos situações nas quais o lateral esquerdo, ao correr com a bola para o campo de ataque, é acompanhado pelo lateral direito que espera também poder atacar se a bola entrar em sua área de atuação. Na Holanda, pensamos assim: vamos defender o flanco direito e também dar cobertura à defesa central. O meio campo direito controla o setor e, portanto, cria bom posicionamento na posse e perda de posse.

Essas coisas são muito difíceis de ensinar a treinadores desta cultura. Eles vão dizer que entendem o conceito, mas nós nem sempre vemos eles aplicarem nos jogos, porque têm dificuldade de tirar o foco do jogador com a bola e assim ter uma visão da organização total. Eles preferem concentrar seu treinamento para o jogador em posse. O treinador holandês irá focar mais o panorama geral”.


Exercício em exagero

"Nós, posteriormente, começamos a trabalhar na forma de treinamento. Tentamos fazer isso um pouco à maneira holandesa: 7 contra 6, 8 contra 7 e com tarefas. Esta é, no entanto, pouco comum aqui [Ucrânia], pois os treinos consistem no que chamamos de “overkill” (um termo que significa literalmente algo sobre morte, ou exercícios exaustivos), fazendo tantos exercícios repetidamente quanto possível durante o tempo de treino.

Isso é parte de sua cultura; variação, variação e mais variações. Então eles fazem cinco minutos disto e em seguida mais cinco minutos daquilo. Enquanto que na Holanda nós concentramos em repetição e aplicação das mesmas técnicas em vários exercícios. Isso é algo que temos gasto muito tempo aqui”.


Alterações nos treinadores

"Nos primeiros meses trabalhamos com o grupo de treinadores que já estavam quando chegamos, mas depois de três ou quatro meses mudamos algumas coisas ao redor. Dispensamos alguns treinadores e contratamos uns pares novos, principalmente ex-jogadores, que se tornaram assistentes e que teriam o potencial para evoluir para treinadores principais.

Muitos destes novos técnicos tinham envolvimento anterior com a analise tática através de “scouts”, mas eram incapazes de fazer qualquer coisa concreta com seu conhecimento.

Todos eles tinham seus certificados de treinadores e a maioria jogou no futebol profissional de nível europeu, alguns até mesmo para equipes nacionais. Eles têm muito a oferecer para no desenvolvimento dos jogadores”.


Categorias de base

Combinação

“A combinação de um grupo de treinadores mais antigos, que estava envolvido com a nova proposta de treino do clube por mais tempo, juntamente com ex-jogadores, provou ser uma boa mistura para a maioria das equipes. É claro que ainda não é perfeito e haverá algumas mudanças de pessoal mais no futuro. Contudo, até agora, as alterações foram mínimas.

Com os times mais jovens, nós realmente não alteramos muito o pessoal. Começamos com os treinadores mais jovens e entusiastas que já estavam aqui quando nós chegamos. Eu só mudei um treinador, porque pensei que ele era muito bom, então fiz dele coordenador de uma das nossas escolas de futebol e ele está fazendo um ótimo trabalho, como também está tendo a oportunidade de desenvolver sua própria atuação como treinador”.


Nova forma de treinamento

“Também adicionamos dois novos treinadores à equipe, ambos ex-jogadores de base que não foram capazes de jogar devido aos ferimentos. Eles estavam familiarizados com nossa visão e, por conseguinte, não tinham experiência com a 'velha' maneira ucraniana de formação e ensino. Estou sempre assistindo os treinadores e sou muito crítico à maneira como eles conduzem as crianças e tomo cuidado para que não caiam de novo nos seus velhos hábitos.

Você pode dar aos jovens treinadores mais informação que eles vão tentar tudo que propusermos com facilidade. Contudo, os treinadores que trabalhavam anteriormente no clube precisam de um pouco mais de argumentos convincentes e um empurrãozinho para tentar coisas novas”.


Gerenciamento de tempo

“Todos os treinadores no Shakhtar atuam bem por si só. Todos eles têm contratos de trabalho por jornada integral, mesmo os treinadores da base. Isso significa que eles estão disponíveis o tempo todo. Nas escolas de futebol o treino é realizado apenas uma vez por dia e isto significa que eles estão muito ocupados das 13h às 17h, que é quando acontecem os treinos. Então, usamos todas as manhãs para dar-lhes cursos, tendo a oportunidade de organizar os trabalhos utilizando substitutos.

O treinador de técnica da base (que trabalha com o Método Wiel Coerver) será o substituto do treinador de profissionais, que realiza a mesma técnica, e da mesma forma os treinadores de condicionamento e os treinadores de goleiros são substituídos por seus pares que atuam nas categorias de base”.


Treinadores visitantes

“Para chegar até os formadores mais eficazmente também procuramos convidar treinadores. Comandantes de grandes clubes europeus, que nós conhecemos como atuam, são convidados a dar aulas demonstrativas de treinamento sobre um determinado assunto.

Convidamos aqueles que costumam realizar sessões de treinamento tático e
técnico (como Ricardo Moniz, do HSV Hamburgo) e também os que se concentram nos aspectos físicos. Desta forma os nossos treinadores podem ver que outros principais clubes também funcionam da maneira que nós estamos trabalhando.

O próximo passo foi visitar outras academias. Fizemos uma viagem de oito dias pela Europa com um grupo selecionado de treinadores. Visitamos quartro clubes e também o KNVB (Koninklijke Nederlandse Voetbalbond, em português, “Associação de Futebol dos Países Baixos”). Isso lhes deu uma boa ideia de como outros clubes trabalham.

A partir desta viagem decidimos que passar apenas um dia em um clube foi muito pouco e, por isso, decidimos ir para o Manchester United por uma semana, seguindo todas as sessões de treinamento”.


*Contribuição da revista Soccer Coaching International – 
www.soccercoachinginternational.com

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Benê Lima