Por HUMBERTO MIRANDA DO NASCIMENTO*
Terminado o Brasileirão é hora das reflexões.
A primeira delas diz respeito ao inútil debate sobre a manutenção ou não da fórmula dos pontos corridos.
Pergunto-me se uma parte da mídia esportiva não há algo mais a dizer em vez de ficar repisando um tema superado.
Os pontos corridos são um sucesso e valorizam o desempenho dos times durante o ano.
O debate mesmo é sobre a estrutura do futebol brasileiro e a dos clubes.
Vejam o Fluminense.
É o campeão de 2010, mas saiu mais endividado que entrou.
O sinal amarelo acendeu.
Sua dívida é de saltar os olhos.
A diretoria do FLU amanhã poderá deixar de investir para recuperar financeiramente o clube.
Será obrigada a isso.
Como manter grandes elencos assim?
Já a CBF, que gosta mais de festa do que de bola e de torcedor, precisa ser posta em xeque pelos clubes.
Já foi posta em xeque pelo torcedor e pela imprensa – ou pelo menos a parte da imprensa que não é sócia dos negócios e das festas da CBF.
Faltam os clubes se imporem.
Chega do calendário irracional que prejudica a renda dos clubes, o torcedor e massacra os jogadores.
Com a CBF tem de ir pro pau ou os clubes empobrecem seu patrimônio (concreto e simbólico) e seu futebol.
Não há outro jeito. Acordem!
Um segundo elemento de reflexão é o craque.
Conca foi eleito, com méritos, o craque do campeonato.
Jogou todas as partidas e muito bem.
Não foi apenas regular, foi decisivo.
Ao contrário de Fred, Ronaldo Fenômeno, Deco, entre outros.
Montillo, do Cruzeiro, é um jogador acima da média.
D’Alessandro é um jogador médio decisivo.
O fato é que os jogadores argentinos, que fizeram mais sucesso que os brasileiros no Brasileirão deste ano, jogam numa posição que no Brasil se foi desprezando.
Muitos técnicos brasileiros e jornalistas bancam e reproduzem uma certa ideologia importada da Europa de que futebol moderno é o praticado lá – aliás, alguns jornalistas até de forma surpreendente dizem que devemos copiá-los.
É a subculturação do futebol nacional que vem dizendo que devemos reduzir os número de craques e excelentes jogadores no meio de campo em favor do esquema marcador-roubador-ganhador.
Em outras palavras, a substituição da arte pela estupidez.
Hoje poderíamos ver, além de PH Ganso, muitos outros meninos brasileiros disputando a hegemonia do meio de campo com os argentinos.
Mas cadê?
Eles tiveram Maradona e têm Messi.
Nós deixamos de ter Pelés, Zicos, Dinamites, Falcões, Sócrates…
Isso se deve também à supervalorização do técnico de futebol.
É como se o craque impedisse a solução milagrosa dos “profexores”.
Craque é rebelde.
Técnico quer disciplina e obediência tática, segundo a ideologia importada que tornou inexpressivo o futebol africano.
Neymar poderia ter sido prejudicado se o técnico dele, Dorival Jr, não fosse um homem sensato.
Num tempo de tanta fé cega, obediente e disciplinada, o infernal Neymar não é bem-vindo nos “campos do senhor”.
É uma “ovelha negra”.
Está longe de resignar-se à categoria de “cordeiro”.
Neymar deveria ser comemorado, mas ainda é visto como um incômodo. Como diria Trajano: parei!!
Às vezes fico imaginando porque Murici é e continuará a ser o melhor técnico dos pontos-corridos.
Não seria ele o único técnico que percebeu o meio de campo brasileiro como um lugar vazio?
Conca supriu justamente a ausência do talento brasileiro com o seu e com aplicação tática.
Conca veio de onde?
Da Europa?
Não, da Argentina, estúpido!
*Humberto Miranda do Nascimento é professor da Universidade de Campinas.
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Benê Lima