Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Uma reflexão sobre o Brasileirão-2010

Fig. 1 – Relação entre falha, erro e defeito

Por HUMBERTO MIRANDA DO NASCIMENTO*

Terminado o Brasileirão é hora das reflexões.

A primeira delas diz respeito ao inútil debate sobre a manutenção ou não da fórmula dos pontos corridos.

Pergunto-me se uma parte da mídia esportiva não há algo mais a dizer em vez de ficar repisando um tema superado.

Os pontos corridos são um sucesso e valorizam o desempenho dos times durante o ano.

O debate mesmo é sobre a estrutura do futebol brasileiro e a dos clubes.

Vejam o Fluminense.

É o campeão de 2010, mas saiu mais endividado que entrou.

O sinal amarelo acendeu.

Sua dívida é de saltar os olhos.

A diretoria do FLU amanhã poderá deixar de investir para recuperar financeiramente o clube.

Será obrigada a isso.

Como manter grandes elencos assim?

Já a CBF, que gosta mais de festa do que de bola e de torcedor, precisa ser posta em xeque pelos clubes.

Já foi posta em xeque pelo torcedor e pela imprensa – ou pelo menos a parte da imprensa que não é sócia dos negócios e das festas da CBF.

Faltam os clubes se imporem.

Chega do calendário irracional que prejudica a renda dos clubes, o torcedor e massacra os jogadores.

Com a CBF tem de ir pro pau ou os clubes empobrecem seu patrimônio (concreto e simbólico) e seu futebol.

Não há outro jeito. Acordem!

Um segundo elemento de reflexão é o craque.

Conca foi eleito, com méritos, o craque do campeonato.

Jogou todas as partidas e muito bem.

Não foi apenas regular, foi decisivo.

Ao contrário de Fred, Ronaldo Fenômeno, Deco, entre outros.

Montillo, do Cruzeiro, é um jogador acima da média.

D’Alessandro é um jogador médio decisivo.

O fato é que os jogadores argentinos, que fizeram mais sucesso que os brasileiros no Brasileirão deste ano, jogam numa posição que no Brasil se foi desprezando.

Muitos técnicos brasileiros e jornalistas bancam e reproduzem uma certa ideologia importada da Europa de que futebol moderno é o praticado lá – aliás, alguns jornalistas até de forma surpreendente dizem que devemos copiá-los.

É a subculturação do futebol nacional que vem dizendo que devemos reduzir os número de craques e excelentes jogadores no meio de campo em favor do esquema marcador-roubador-ganhador.

Em outras palavras, a substituição da arte pela estupidez.

Hoje poderíamos ver, além de PH Ganso, muitos outros meninos brasileiros disputando a hegemonia do meio de campo com os argentinos.

Mas cadê?

Eles tiveram Maradona e têm Messi.

Nós deixamos de ter Pelés, Zicos, Dinamites, Falcões, Sócrates…

Isso se deve também à supervalorização do técnico de futebol.

É como se o craque impedisse a solução milagrosa dos “profexores”.

Craque é rebelde.

Técnico quer disciplina e obediência tática, segundo a ideologia importada que tornou inexpressivo o futebol africano.

Neymar poderia ter sido prejudicado se o técnico dele, Dorival Jr, não fosse um homem sensato.

Num tempo de tanta fé cega, obediente e disciplinada, o infernal Neymar não é bem-vindo nos “campos do senhor”.

É uma “ovelha negra”.

Está longe de resignar-se à categoria de “cordeiro”.

Neymar deveria ser comemorado, mas ainda é visto como um incômodo. Como diria Trajano: parei!!

Às vezes fico imaginando porque Murici é e continuará a ser o melhor técnico dos pontos-corridos.

Não seria ele o único técnico que percebeu o meio de campo brasileiro como um lugar vazio?

Conca supriu justamente a ausência do talento brasileiro com o seu e com aplicação tática.

Conca veio de onde?

Da Europa?

Não, da Argentina, estúpido!

*Humberto Miranda do Nascimento é professor da Universidade de Campinas.

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