Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, dezembro 12, 2010

Uma tríade de textos conectados sobre preparação das seleções brasileiras

Ney Franco mira diagnóstico da naturalidade dos atletas selecionados para a seleção sub-20

Há quatro anos, por exemplo, região Norte do país não tem convocados; Flamengo lidera ‘fonte’

Artur Capuani e Bruno Camarão

O Flamengo é a principal “fonte” para a montagem do grupo da seleção brasileira sub-20 e os atletas nortistas estão em baixa. Em se considerando os últimos quatro anos, pelo menos, esse é o levantamento realizado pelo novo treinador da categoria e coordenador do departamento de formação da CBF, Ney Franco.

Durante sua palestra no Footecon, fórum internacional de futebol organizado por Carlos Alberto Parreira, o comandante do Coritiba na temporada de 2010 apresentou números das últimas listas da equipe em questão. E de acordo com a pesquisa, a região Norte não teve um jogador sequer convocado para o grupo desde 2006.

Com 71,7%, o Sudeste lidera o ranking – seu maior representante é o Flamengo, que cedeu sete jovens para servir o país em torneios oficiais. A região Sul, com 23,3%, vem na sequência, especialmente pelos seis atletas gremistas nas listas antecedentes. Centro-Oeste (3,3%) e Nordeste (1,7%) selam o levantamento.

“Temos que tentar entender a razão de existir uma alta concentração de atletas convocados de uma mesma região. O que estaria faltando aos outros? Será que realmente é a qualidade do trabalho desses clubes, ou algo está errado? Cabe a nós diagnosticar se existe algum problema”, sinalizou Ney.
Diante do processo de integração pensado pela nova gestão do futebol brasileiro, na figura do treinador do grupo principal, Mano Menezes, o objetivo é apresentar algumas sugestões à direção da CBF – elas devem ser organizadas a partir de 2011.

Ney prevê inclusive a realização de competições nos centros mais afastados do eixo Sul para que se possa revelar com mais precisão os potenciais atletas com iminência de chamado.

“A ideia é realizar competições para detectar os motivos que atletas dessas regiões não são convocados. É um incentivo para os clubes de menor investimento participarem dos campeonatos e mostrarem os seus atletas”, finalizou Ney.

*   *   *

Coordenação da seleção brasileira define ‘ciclos’ a treinadores das categorias de base

Intenção é estender por mais tempo o contato e o trabalho entre comissão técnica e grupo de atletas que está em formação

Artur Capuani e Bruno Camarão

Cumprimento de um projeto de quatro anos com um mesmo grupo de atletas: esse é o “ciclo” estabelecido pela coordenação técnica da CBF, na figura do também treinador da equipe sub-20 nacional, Ney Franco. O alvo é que se estenda por um período mais consistente o trabalho entre o staff e o grupo de jovens que atua no departamento de futebol profissional dos seus respectivos clubes.

Escolhido por Mano Menezes para conduzir o processo de alinhamento de filosofia entre as equipes de base, Ney definiu na direção do time sub-15, Marcos Santos. O treinador seguirá com os selecionáveis até que eles sejam eventualmente promovidos para o sub-17. E o mesmo processo ocorrerá com Emerson Ávila, atualmente à frente dos talentos nascidos entre 93 e 94 – posteriormente, ele passará a treinar a categoria anterior.

Marcos Santos estava ligado ao Coritiba, mesmo clube pelo qual seu coordenador passou em 2010. Lá, Ney Franco faturou o Campeonato Paranaense e a Série B do Campeonato Brasileiro – Santos era treinador da equipe sub-20 coxa-branca.

Já Emerson Ávila, com larga experiência no processo de formação de atletas, trabalhava nas categorias de base do Cruzeiro e também deixou o cargo para assumir a seleção sub-17. Recentemente, chegou à final de um torneio nos Estados Unidos com a equipe mineira – ficou em segundo lugar.

Diante desse novo plano executivo, os jogadores devem criar uma identidade atuando com o mesmo comandante por um período de quatro anos até chegar à equipe principal.

“O Marcos Santos é o treinador do sub-15. Quando esse grupo chegar ao sub-17, ele estará no comando. Enquanto isso, o Emerson Ávila iniciará um trabalho na sub-15 para termos um novo ciclo”, confirmou Ney Franco.

Em sua apresentação no Footecon 2010, ele garantiu ainda que a CBF deve iniciar um processo de catalogação de todos os jogadores que têm condições de ingressar às seleções de base. A entidade mira um controle maior sobre a saída de garotos abaixo dos 18 anos para o futebol do exterior, situação defasada atualmente.

“Qualquer jogador que saia do país precisa passar pela CBF. Temos que criar um filtro para que todo atleta que deixe o país abaixo dos 20 anos seja reconhecido pelo meu departamento. Temos que acompanhar esses jogadores”, finalizou Ney.

Dos atletas selecionados por Ney Franco para a disputa do Mundial sub-20, em janeiro, no Peru, dois deles emigraram antes de completar maioridade: Zé Eduardo, do Parma, e João Pedro, do Palermo. O atacante Philippe Coutinho, negociado para a Inter de Milão quando era adolescente, entretanto, só deixou o Rio após ultrapassar a faixa dos 18 anos.

*   *   *

Mano reitera comprometimento de grupo e vislumbra interação com técnicos

Treinador da seleção principal do país acredita que profissionais da área precisam se falar mais e ouvir uns aos outros: ‘nunca falei de futebol com o Zagallo: é um absurdo’

Artur Capuani e Bruno Camarão

Ao anunciar sua primeira lista de convocados da seleção brasileira, para o amistoso diante dos Estados Unidos, Mano Menezes sinalizou para a necessidade de se estabelecer um compromisso real entre atleta requerido, grupo e comissão técnica. Ao palestrar sobre o projeto desenvolvido por sua equipe de trabalho durante a sétima edição do Footecon, realizada no Rio de Janeiro, o treinador gaúcho ratificou sua posição.

“Acredito em comprometimento e não creio que alguém vá mandar em um jogador profissional, realizado, simplesmente. Você precisa conversar, convencê-lo de que aquilo que você está passando tem fundamento. Não é possível outra atitude. O jogador quer ganhar e sabe o que fazer para isso, mas às vezes se acomoda, tropeça em pedras menores. Por isso não podemos deixá-lo na zona de conforto, imaginando que já está realizado o suficiente”, indicou Mano.

Na avaliação dele, os clubes brasileiros têm demonstrado mais condições financeiras do que em temporadas passadas. O ex-treinador do Corinthians pegou como exemplo a permanência “heróica” de Neymar no Santos, jogador que Mano apontou como “craque”.

“Pela Copa de 2014 e a crise econômica em alguns países da Europa, estamos invertendo a equação e mantendo mais os jogadores aqui. Isso tudo tem influência”, acrescentou.

Se alguns passos relevantes na esfera da gestão e da administração dos clubes têm sido dados, o alvo agora é avançar na questão puramente técnica e relacional. Para Mano Menezes, os treinadores do futebol nacional como um todo, independentemente da divisão em que suas equipes estejam concorrendo, devem se reunir com mais constância e estabelecer um diálogo.

“Os treinadores das séries A e B precisam discutir mais futebol. Temos aqui o Zagallo, um dos técnicos mais vitoriosos do futebol, da seleção, e nunca falei sobre futebol com ele. Isso é um absurdo”, citou o comandante. “E essa proposta tem de partir da confederação (CBF), o que certamente vai melhorar o nosso trabalho em muitos aspectos”.

Após reiterar a necessidade de uma “unificação da linguagem do futebol”, Mano falou sobre eventuais interferências do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, nas convocações dos atletas para amistosos e torneios, bem como a participação de patrocinadores e parceiros nesse processo.

“No Brasil, fala-se muita bobagem. A única observação do presidente da CBF foi quando ele viu a primeira lista de convocação, que estava debaixo do meu braço. Eu mostrei a ele, que disse apenas: ‘gosto muito desse jogador’, apontando para um nome”, relembrou o treinador. “A interferência é só essa. Não cabe ao presidente interferir, assim como não cabe ao patrocinador. Temos de convocar os melhores e fazer um bom time. Não temos mais que discutir certas coisas no futebol”, finalizou.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima