Geraldo Campestrini
Presenciamos neste último final de semana mais um exemplo da necessidade de se definir estratégias claras para administrar os anseios de todos aqueles que possuem algum interesse sobre as organizações – os stakeholders. O caso em voga foi o do Palmeiras, que viveu um dilema complicadíssimo, na linha tênue entre as questões éticas do esporte e os anseios de boa parte de sua torcida, que queria vê-lo perder para o Fluminense e assim evitar que o seu maior rival, o Corinthians, vencesse o Campeonato Brasileiro (ou facilitasse a vida do mesmo).
A torcida é apenas um exemplo, e talvez o mais emblemático, do conjunto de pessoas com determinado interesse sobre um clube de futebol, variando seu perfil de acordo com a cultura e a história inerente à entidade.
Para entender melhor, o diagrama abaixo, proposto por Mitchell, Agle e Wood (1997) e citado por Trentin (2010)*, expressa a combinação dos atributos poder, legitimidade e urgência, de acordo com as características de cada stakeholder ou grupo de stakeholders.
Este conjunto de stakeholders, em referência aos clubes de futebol, envolve todos os 19 clubes da Série A, o Clube dos 13, a empresa que detém os direitos de transmissão dos jogos, todos os outros veículos de comunicação, a CBF, a CONMEBOL, a FIFA, os associados, os dirigentes e diretores do clube, os funcionários do clube, a comissão técnica, os próprios jogadores, a família dessas pessoas que estão diretamente envolvidas com os dirigentes, diretores, funcionários, comissão técnica e jogadores, os fornecedores do clube, os patrocinadores e por aí segue uma lista enorme de pessoas, empresas e instituições com um elevado interesse sobre as decisões da entidade esportiva.
Apenas para tecer comentários sobre três dos supracitados exemplos e suas possíveis reações em detrimento deste caso Palmeiras-Fluminense-Corinthians:
1) Patrocinadores: como é que empresas do nível de Fiat, Coca-Cola e Adidas, patrocinadoras do Palmeiras, que publicam balanço social anualmente e levantam a bandeira da ética e da sustentabilidade, vão justificar que o seu investimento serviu para manipular determinado resultado esportivo? Lembrando que corintianos (além dos torcedores das outras equipes) também consomem seus produtos.
2) Família: imaginem a tensão na família dos jogadores, que são stakeholders adormecidos, podem se tornar do dia para a noite dominante ou definitivo, ao assistir a ameaça de terceiros a seus entes (inclusive de diretores do clube que os emprega). Como lidar com tal situação?
3) Jogadores: e aqui poderíamos incluir a comissão técnica que, por determinada circunstância do futebol, venha a defender as cores de algum destes rivais futuramente. Eles não deveriam ser ouvidos por uma lógica mais coerente?
Estas reflexões que foram deixadas nesta coluna, além de outras inerentes ao tema, devem ser objeto de estudos e análise em todas as organizações. Percebe-se a necessidade em se compreender sobre as influências diretas e os fatores de poder, legitimidade e urgência que afetam os clubes de futebol e, a partir daí, definir com detalhes as estratégias e ações a serem desenvolvidas em cada caso, seja ele positivo ou negativo, que a instituição é acometida para se posicionar e se comunicar com cada um desses stakeholders. Negligenciar tais pressupostos pode prejudicar sobremaneira a sustentabilidade no médio-longo prazo das organizações.
Bibliografia:
* TRENTIN, Mário Henrique. Gerenciamento de stakeholders: case BP – Golfo do México. Mundo Project Management, ago/set 2010.
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Benê Lima