Países começam a mostrar projetos nesta quarta-feira à Fifa. Decisão sobre onde serão os Mundiais depois de 2014 será revelada na quinta, em Zurique
Por Lucas Loos e Márcio Iannacca / Globo.com / Copa do Mundo
O planeta vai saber nesta quinta-feira quais serão as sedes das Copas do Mundo de 2018 e de 2022. Mas, a partir desta quarta, 11 países divididos em nove candidaturas começarão a apresentar ao Comitê Executivo da Fifa, em Zurique, os seus projetos pela última vez.
Rússia, Inglaterra e as propostas conjuntas de Portugal/Espanha e Bélgica/Holanda estão no páreo para receber o primeiro evento, enquanto Japão, Qatar, Coreia do Sul, Estados Unidos e Austrália brigam pelo direito de organizar a edição seguinte.
As apresentações finais começarão com os países que sonham sediar o Mundial de 2022. Nesta quarta, a Austrália vai ser a primeira a mostrar o seu projeto, às 11h (horário de Brasília). Em seguida, Coreia do Sul, Qatar, Estados Unidos e Japão, respectivamente, terão uma hora. No dia seguinte, a candidatura de Bélgica e Holanda será a primeira a fazer a sua exposição, às 6h (de Brasília), para depois entrarem Espanha/Portugal, Inglaterra e Rússia. O anúncio das sedes das duas Copas depois de 2014 será feito às 13h (de Brasília) na quinta.
O GLOBOESPORTE.COM pesquisou cada uma das candidaturas e selecionou os principais pontos fortes e fracos de cada uma delas. Além disso, um infográfico mostra todos os estádios oferecidos pelos países à Fifa. Embora a entidade só tenha exigido 12 arenas de cada, alguns oferecem mais do que o necessário e essa escolha está sujeita à mudanças futuras. Portugal e Espanha, por exemplo, sugeriram 21 estádios, enquanto o Qatar foi mais econômico, com apenas 12, sendo que nove deles ainda precisarão ser erguidos. Confira abaixo tudo sobre a briga para 2018 e 2022.
Rússia
Favorita nos bastidores para receber a Copa do Mundo de 2018, a Rússia aposta no seu forte poderio econômico para receber a competição. Com a promessa de investir U$ 3,8 bilhões (R$ 6,5 bilhões) em estádios, U$ 2,2 bilhões (R$ 3,8 bilhões) no futebol no país e U$ 11,5 bilhões (R$ 19,8 bilhões) em infraestrutura, a candidatura promete erguer nada menos que 13 arenas e ainda reformar outras três. Os russos ainda usam o argumento de que nunca sediaram uma Copa e, com isso, poderiam abrir novos mercados para o torneio, assim como aconteceu com a África do Sul, neste ano, e com os Estados Unidos, em 1994.
- Nunca recebemos uma Copa do Mundo. Recebê-la aqui seria abrir novas cabeças e corações para o futebol. Seria um capítulo completamente novo para a Copa do Mundo - disse o meia Arshavin, um dos principais nomes do Arsenal, capitão da seleção russa e embaixador da candidatura.
Maior país em território do planeta (17.075.200 km²), a Rússia atravessa a Europa e a Ásia, ligando Ocidente e Oriente. Isso implica também em longas distâncias de uma sede para outra. A organização da candidatura, porém, diz que vai concentrar os jogos na parte leste do país para evitar longas viagens das delegações. Por conta da questão dos transportes, a candidatura é considerada de médio risco na avaliação da Fifa, enquanto as suas concorrentes europeias são mais bem avaliadas nesse sentido.
Inglaterra
Berço do futebol, a Inglaterra usa a sua tradição no esporte e suas arenas bem cuidadas como trunfos na votação desta quinta-feira. Na capital, por exemplo, a candidatura oferece o futuro estádio Olímpico de Londres (ainda em construção), a nova casa do Tottenham (ainda um projeto), o lendário e remodelado Wembley e o Emirates Stadium, do Arsenal. Fora outras cidades com clubes fortes, como Manchester (Old Trafford e City of Manchester) e Liverpool (Novo Anfield Road), que também serão sedes. Além disso, a comunidade britânica está bem envolvida com o projeto. Nomes como o primeiro-ministro do país, David Cameron, e o astro David Beckham vão a Zurique para a votação.
- Os ingleses querem muito ser sede da Copa. E eu acho que eles estão muito preparados para isso. Mesmo sem terem sido eleitos para organizar a Copa do Mundo, eles já estão preparados desde antes - disse o brasileiro Gomes, que atua no Tottenham.
Pesa contra os ingleses o fato de já terem sediado uma Copa do Mundo e ainda receberem as Olimpíadas de Londres de 2012. Isso porque a Fifa não gostaria que os britânicos organizassem dois grandes eventos desse nível em um pequeno intervalo de tempo para dar a oportunidade a uma outra nação. Outro ponto que levantou polêmica é a questão do torneio de Wimbledon, que pode coincidir com os jogos da competição. A Fifa exige que nenhum outro evento esportivo de grande porte aconteça em uma das sedes simultaneamente ao Mundial e, por isso, levou em conta o Grand Slam do tênis em seu relatório.
Holanda e Bélgica
Após organizarem a Eurocopa de 2000, Holanda e Bélgica se juntaram novamente para tentar realizar uma Copa do Mundo. E dessa vez sustentabilidade e facilidade de locomoção são as palavras de ordem. Com planos de reaproveitar água e reciclar resíduos, os dois países pretendem utilizar materiais que produzam um Mundial verde. Além disso, enquanto a Rússia enfrenta dificuldades com as longas distâncias, o maior trajeto a ser percorrido entre as sedes dos dois países será de 374km, das cidades de Enschede (Holanda) para Charleroi (Bélgica).
Pouco cotada nos bastidores, a candidatura perdeu força com a desistência dos Estados Unidos na briga por 2018 para se concentrar exclusivamente para 2022, na qual são favoritos. Com isso, holandeses e belgas só podem brigar pelo direito de sediar a edição logo após o Mundial do Brasil, já que os europeus não estarão na concorrência de 2022 devido ao rodízio de continentes promovido pela Fifa. Além disso, a pouca tradição da Bélgica no futebol não fortalece a proposta.
Espanha e Portugal
O grande trunfo de Portugal e Espanha para receberem a Copa do Mundo de 2018 é a boa estrutura de estádios e hotéis que os países contam atualmente. Das 21 arenas oferecidas para o Mundial, apenas cinco vão precisar ser construídas, sendo que das existentes sete não precisariam nem de reforma. Além disso, a boa rede hoteleira é considerada boa e vai além do que a Fifa exige para a competição. Jogadores e ex-jogadores consagrados dos países também fazem parte da campanha e alguns deles, como Iker Casillas, Fernando Hierro, Luís Figo e Cristiano Ronaldo, prometeram marcar presença na escolha em Zurique.
Com a grande quantidade de estádios oferecidos pela candidatura conjunta, a Espanha vai dominar o Mundial caso a dupla seja escolhida pelo Comitê Executivo da Fifa. Isso porque Portugal só teria três dessas sedes - Dragão (Porto), José Alvalade e Estádio da Luz (ambos em Lisboa). Além disso, a situação econômica dos países não é das melhores e pode pesar contra a proposta ibérica.
Austrália
Assim como a Rússia, a Austrália argumenta que sua candidatura poderá conduzir o futebol a novas localidades, podendo levar a Copa pela primeira vez para a Oceania e a deixar próxima da Ásia ao mesmo tempo. Além disso, o país é dono de um grande potencial turístico e abriga uma das mais antigas civilizações do mundo. Após organizar grandes eventos recentemente, como as Olimpíadas de Sidney (2000) e o Mundial de Rugby (2003), os australianos garantem que já têm uma infraestrutura bem adiantada para o evento.
Apesar de estar presente nas duas últimas edições da Copa, a Austrália deixa a desejar quando o assunto é tradição no futebol. Potência olímpica, os australianos só participaram de três Mundiais e, a partir das eliminatórias passadas, filiou-se à AFC (Confederação de Futebol Asiático) para ter chances maiores de disputar a competição. Além disso, a questão da rede hoteleira deixa a desejar, já que o país apresentou 43 mil quartos enquanto a Fifa exige 60 mil.
Japão
O Japão tem uma nova paixão: o futebol. Desde os anos 90, o esporte no país se desenvolveu a ponto de a seleção local participar os últimos quatro Mundiais de forma consecutiva. Os números são impressionantes se levar em conta que a equipe nipônica fez sua estreia em Copas em 1998. Além disso, a tecnologia desenvolvida e a cultura milenar também são argumentos usados pelos organizadores para sensibilizar o Comitê Organizador da Fifa na próxima quinta-feira.
Pesa contra o país o fato de ter organizado o evento há oito anos. Sede da Copa de 2002, em conjunto com a Coreia do Sul, o país receberia a competição por duas vezes em um intervalo de 20 anos, caso seja o escolhido na votação em Zurique. Até hoje só o México organizou duas edições em um intervalo próximo a esse, em 1970 e 1986, e assim mesmo porque a Colômbia, que deveria sediar o Mundial vencido pela Argentina, desistiu por conta dos problemas políticos e econômicos que atravessava na década de 80.
Coreia do Sul
É com o legado de competições do porte das Olimpíadas de Seul, em 1992, e da Copa do Mundo, em 2002, que a Coreia do Sul espera convencer os membros do Comitê Executivo da Fifa para receber novamente o Mundial. Com uma boa infraestrutura por conta dos eventos recentes, a candidatura aposta também nas vitórias da seleção local, que garantiu vaga nas últimas sete edições da Copa, para se mostrar como a maior força do futebol asiático dos últimos anos e ganhar uma nova oportunidade.
Assim como o Japão, a Coreia recebeu um Mundial recentemente e, caso seja a escolhida nesta quinta, estaria tirando a chance de uma outra nação receber o evento. Além disso, tem a questão da eterna tensão com a Coreia Norte, que pode servir como empecilho para o sonho asiático. A candidatura, no entanto, promete usar essa questão a seu favor e pretende oferecer dois ou três jogos do torneio para os vizinhos.
Estados Unidos
Há 16 anos, os Estados Unidos organizavam a Copa do Mundo mais lucrativa da história, ao faturar cerca de R$ 3,4 bilhões. Favoritos nos bastidores para organizar novamente o evento, os americanos preferem deixar de lado o passado e focam o presente e o futuro ao usar como trunfo a boa disponibilidade de estádios no país aliada à possibilidade de abrir ainda mais o mercado do esporte para a América do Norte. Com nomes como Brad Pitt, Morgan Freeman e Bill Clinton apoiando a candidatura, os EUA apostam ainda que a sua população cosmopolita poderá atuar como um fator preponderante na decisão da Fifa.
Uma escolha favorável aos americanos, no entanto, iria contra a política de rodízio da Fifa. Apesar da experiência bem sucedida, o país recebeu a Copa em 1994 e estaria tirando a oportunidade de uma outra nação que nunca recebeu uma Copa. Além disso, a Fifa apontou em seus relatórios que os governantes locais não estariam dando o devido apoio à candidatura
Qatar
Estádios com tecnologia de ponta, sedes próximas umas das outras e a possibilidade de levar a primeira Copa do Mundo até o Oriente Médio, região apaixonada pelo futebol. Estes são os três grandes trunfos do Qatar para convencer os membros do Comitê Executivo da Fifa. Com o apoio de nomes de peso, como Zinedine Zidane e Pep Guardiola, a proposta asiática oferece estádios climatizados e facilidade de locomoção para driblar os contras que ameaçam a candidatura.
O primeiro deles é o forte calor que faz no país nos meses de junho e julho, época em que acontece o torneio. Por conta disso, a Fifa inclusive inseriu em seu relatório que um eventual Mundial no Qatar poderia oferecer riscos à saúde dos jogares, classificando a proposta - entre outros motivos - como de grande risco. A pouca tradição no futebol é outro fator que pesa contra os asiáticos, que não estão nem entre as 100 seleções mais bem colocadas do ranking e nunca disputaram uma Copa do Mundo.
O comitê do Qatar produziu a maior camisa do mundo para divulgar a candidatura do país (Foto: Reuters) .
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Benê Lima